''Quando acertamos ninguém se lembra, quando erramos ninguém se esquece''

quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

SURINAME

Imagine que você tem a sua casa, onde moram você e sua família. Então, num belo domingo, depois de assistir o mundial de futebol de areia, você e sua família decidem ir fazer buracos no quintal; por incrível que pareça tem muita gente que faz isso. Digamos que depois de alguns buracos e coisa e tal, vocês encontrem ouro. Como sua mulher não conseguiu guardar segredo nem quando você começou a pintar o seu bigode, não era agora que ela ia conseguir ficar em silêncio. Dito isso, ela conta pra toda a vizinhança que vocês tem ouro no quintal. A partir de então começa a chegar gente de todos os lados para tentar encontrar algo no seu quintal. E assim o seu terreno vai enchendo de gente. E passado algum tempo estas pessoas começam a dizer que são os donos do lugar, que vocês nao tem mais direito algum de ali permanecerem. E mesmo que seu marido mostre a escritura do terreno, dizendo que aquilo ali pertence a vocês, os demais não querem nem saber, afinal, ali tem ouro, e com ouro não se brinca no bonde. Eu adoro esta expressão.
Eis então que para ganhar um dinheiro a mais, seu marido monte uma barraca de sucos de goiaba no terreno. Assim, os chamados garimpeiros que ali estão podem refrescar a garganta enquanto não encontram o ''Eldorado''. Para ganhar um pouco mais, seu marido coloca um táxi a disposição dos aventureiros.
E assim, vão passando os anos. Eles procuram ouro. Não respeitam as ordens locais, e continuam atuando como se fossem os donos do lugar. Mas, num determinado momento seu marido decide cobrar uma dívida de um dos garimpeiros que ali estão. Este garimpeiro se irrita com a cobrança do seu marido e mata o seu esposo a facadas. Na mesma hora os seus parentes, filhos, cunhados, e demais familiares gritam palavras de ordem:
_ Isso não pode ficar assim, nós já aguentamos ofensas suficientes, morte aos garimpeiros estrangeiros.
Em uma noite perseguem, batem, e não se pode dizer ainda que, matam. Foi assim no Suriname. Depois de anos e anos explorando um território que não lhes pertence, e em todas as reportagens que vimos na televisão até agora, os repórteres enfatizam que todos os brasileiros que lá estão, vivem de forma ilegal, o inevitável aconteceu.
Os jornais mais sensacionalistas entrevistaram uma brasileira, que não informou por A mais B o que fazia lá, se era uma prostituta ou uma garimpeira ilegal, que falou mal dos locais; isso é óbvio. Os jornais mais conscientes entrevistaram os dois lados, onde foi possível ouvir duas versões para o mesmo problema. E em último caso, os jornais mais polêmicos entrevistaram somente os Surinameses, que deixaram bem claro odiar os brasileiros do garimpo, por que os repórteres brasileiros que lá estavam, nem foram tocados, muito menos ofendidos.
Se os repórteres entram, trabalham em suas reportagens e vão embora sem serem tocados ou agredidos, mesmo que verbalmente, nem todos são inocentes nesta história então. Se os turistas lá chegam, visitam, gastam, e vão embora, sem serem tocados e nem agredidos, novamente voltamos a pensar que nem todos são inocentes nesta história.
Por fim, não digo que foi um ato bacana matar e estuprar, se é que isso aconteceu; mas por outro lado foi muito bom ver um povo expulsar aqueles que lá viviam de forma ilegal agindo como se o ouro fosse deles. Se no Brasil o povo tivesse esta iniciativa há trezentos anos atrás, com certeza Portugal não teria levado todo o ouro que levou da gente pra reconstruir Lisboa depois do terremoto.
É só uma questão de deixar bem claro quem é dono do quê neste mundo... Que mania de querer pegar o que não te pertence.

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

E-MAIL ACEITA TUDO


''PULSEIRAS DO SEXO''

Uma vez eu recebi um e-mail falando sobre uma pessoa que tinha uma doença muito grave, e que naquele mesmo instante deveria ser feito uma oração para aquela alma doentia, mas com um agravante, a oração nao valeria nada se ao final da leitura aquele e-mail não fosse enviado para 20 amigos da sua caixa postal. Eu não enviei para 20 amigos, por que não tenho 20 amigos, se for contar, tenho dois, e um não está mais querendo ser meu amigo, isso leva meu grau de amizade a um único ser humano na face da terra. Enfim, dos males o menor; dias depois numa conversa com um hacker fiquei sabendo que estas tais correntes servem para dar dinheiro a alguém. Segundo informações dele, cada vez que você repassa um e-mail deste, ele ganha 15 centavos. Faça a conta e veja, devido a quantidade de endereços que ele tem postado no cabeçalho da mensagem, quanto dinheiro ele não ganha em alguns cliques.

Acreditar nisso que eu acabei de escrever é a mesma coisa que acreditar nos e-mails que todo mundo recebeu sobre a gripe A no Paraná. Enquanto a doença corria por aí, e pessoas falavam nas escolas: ''Vocês são loucos de trabalharem com esta doença contaminando todo mundo''. E quanto mais a televisão falava que as vítimas chegavam a 30, 50, ou 100, sempre tinha alguém que vinha com uma impressão de internet na mão falando mais alto: ''Não é verdade, tudo que a televisão divulga, você pode colocar o triplo em cima dessa contagem, está morrendo três vezes mais pessoas que isso aí''. Por fim, mais da metade da população paranaense morreu. Ultrapassamos a Argentina e o Estado do Rio Grande do Sul juntos. Tudo isso, segundo a internet, mais uma vez.

Eis então que aparece um e-mail falando sobre umas tais pulseiras do sexo. Segundo estas informações, de internet diga-se de passagem, a brincadeira teria surgido na Inglaterra, onde um grupo de alunos teria padronizado atos sexuais para cada pulseira arrebentada. Por serem coloridas, cada cor representava uma ação. Eis então que começaram a caçar as tais pulseiras nas escolas. Na escola onde eu trabalho foi uma festa. Os alunos nem sabiam do que se tratava, mas já estavam sendo acusados de fazerem parte do tal grupo das ''pulseiras do sexo''. Com autorização dos pais e responsáveis, as pulseiras coloridas foram confiscadas cotidianamente. E tudo isso aconteceu depois que um pai apareceu na escola com uma fotocópia de uma notícia tirada da internet, onde estava a tal reportagem da escola inglesa. Segundo esta, sem fonte, sem citar o nome da escola, sem citar qualquer dado comprometedor; a brincadeira teria surgido na Inglaterra algum tempo atrás, e atualmente ''os alunos de 12 anos, somente usam pulseiras pretas e douradas''. Segundo este mesmo e-mail, a pulseira preta significa fazer sexo, e a pulseira dourada significa fazer tudo referente ao sexo.

Ewandro Schenkel, em texto publicado pela Gazeta do Povo (04/12/2009), realizou a seguinte tarefa direcionada para este assunto das ''pulseiras do sexo''; sem perda de tempo ligou para a Delegacia do Adolescente de Londrina, cidade do norte do Paraná com mais de 500 mil habitantes, e perguntou se havia ocorrido alguma denúncia de abuso envolvendo menores com as pulseiras. O resultado foi nada. Os responsáveis por lá nem sequer sabiam da existência destes acessórios.

Não há o que dizer em relação a isso, parece que o mundo gira em torno dos e-mails. Parece que quanto mais sem fundamento ou comprovação sólida de que alguma coisa é real, mais credibilidade tem no mundo dos vivos. Para encerrar, citarei a frase de uma funcionária do lugar onde trabalho, há um ano da aposentadoria por tempo de serviço:

''_ Quando eu estava na escola também tinha estas pulseirinhas, eu até usava um monte no braço, mas eu nunca soube que era para esta finalidade do sexo.''

Talvez não sabia por que não existia internet há 65 anos atrás.

domingo, 6 de dezembro de 2009

O HOME OFFICE


Pra variar um pouco a programação do final de semana, o síndico do prédio onde eu me escondo marcou uma maravilhosa reunião de condomínio para um sábado à tarde. Como sempre, eu fui. Às vezes tenho que parar de ser menos fanático por este tipo de coisa, enfim, eu estava lá, juntamente com mais oito pessoas; formando um total de nove condôminos. Só por curiosidade, o condomínio onde eu resido tem 190 pessoas. É sempre bom ver que há um interesse por coisas que interessam a todos, ou não.

Mas lá estávamos nós, nove corajosos ouvintes, num sábado a tarde, no horário do cachorro quente do mercado grande que existe perto do lugar onde moramos. A reunião ia bem, sem muitas discussões, quando o síndico resolveu ler um ítem do regulamento interno:

''Os apartamentos devem ser usados exclusivamente para domicílio, e não para fins comerciais.''

Era só isso, uma simples linha, lida em menos de dez segundos; mas... E o pior é sempre isso, sempre existe um mas no meio do caminho... Um dos presentes levantou a mão, e num tom estranho, disse um monte de coisas em língua estranha.

''_ Eu gostaria de saber se para este sufixo há uma possibilidade de uma não instauração de um home office? Por que eu tenho um home office na minha casa.''

Sem entender nada, o síndico olhou para os olhos dele, e já arrependido do que tinha lido, disse:

''_ Domicílio, quer dizer pra morar; é pra você morar na sua casa.''

Confesso que fiquei mais tranquilo com este tipo de informação, mas enfim, o morador insistiu no termo que estava usando, como se o síndico tivesse a obrigação de saber o que ele fazia dentro das paredes da casa dele.

''_ Estou perguntando de um home office, é possível ter um home office, ou até isso você vai tirar da gente?''

''_ Não estou entendendo você.''_ disse o síndico.

''_ Um home office, até quantas pessoas podem frequentar um espaço de um home office, dentro de um espaço destinado para um trabalho de office?''_ o homem estava se complicando cada vez mais em suas colocações.

''_ É domicílio! É pra morar eu tô dizendo, é pra morar! Você não quer morar na sua casa?''_ o síndico estava começando a ficar nervoso com tudo aquilo.

''_ Eu tenho um home office; por que não posso ter um home office na minha casa?''_ resmungava o morador.

Eu estava quase levantando pra ir embora daquele lugar, quando uma moradora, fazendo crochê, acomodada num banco atrás de onde eu estava, levantou a mão e disse para o síndico:

''_ É um trabalho em casa isso que ele tá dizendo. Ele tem um escritório na casa dele, mais nada. Ele não vai vender nada lá... Ou vai?''_ olhou pra ele.

Sem ter pra onde correr, o homem levantou e disse:

''_ Nâo é pra vender, é só um home office.''

No mesmo instante a mulher parou com seu crochê, e isso deve ter sido horrível pra ela fazer, por que ficou muito brava, levantou também, e disse em alto tom:

''_ Pára com essa merda de office, fala nossa língua, é um escritório dentro da sua casa, todo mundo aqui sabe o que é ter um escritório em casa, pára de ficar inventando moda.''_ a mulher sentou novamente e apontou para o síndico. ''_ Pode continuar agora.''

O homem ainda em pé, disse:

''_ Eu não vou mais ficar aqui na reunião por que eu tenho um compromisso agora as ''cinco'' horas da tarde, no meu home office.''

''_ Vai embora daqui, e leva o seu home office junto.''_ gritou a mulher.

Climão, realmente ficou um climão. Por fim, o homem saiu, e tudo transcorreu sem maiores problemas até o fim da discussão. Ás vezes fico pensando como é bom ter gente assim no nosso mundo, os tontos, que insistem em querer demonstrar conhecimento numa coisa tão banal e idiota como uma simples expressão estrangeira; e os de paciência curta, que não toleram estes tontos e fazem valer o bem estar de todos através dos gritos. Aquela situação estava realmente me deixando irritado, de tanto ouvir o cara querer se fazer entender sem explicar o que ele queria dizer, mas quando a mulher levantou a voz e eles quase se pegaram no tapa, fiquei com um pouco de medo da mulher, pois se ela faz valer sua impaciência como uma forma de acelerar o problema que estava acontecendo, assim ela também pode gritar mais alto para fazer valer suas decisões quando ela não concordar com uma outra opinião, tipo a minha. E foi o que aconteceu. Num avançado ponto da reunião eu opinei sobre algo, mas ela não concordou, e quis gritar mais alto. Eu temia que isso ia acontecer, e aconteceu. Por minha sorte naquele instante, minha opinião estava interligada com a opinião do síndico, e isso fez eu ganhar a causa; para desespero da mulher.

Não é querer dizer que eu estava certo ou coisa e tal, é querer entender o que leva alguém achar que tudo pode ser ganho no grito... Enfim, não é gritando que você ganha algo na vida... Com exceção dos animadores de auditório de televisão e dos técnicos de futebol.