''Quando acertamos ninguém se lembra, quando erramos ninguém se esquece''

segunda-feira, 22 de março de 2010

Festival de Teatro para o Centro da Cidade de Curitiba


O 18º Festival de Teatro de Curitiba começou. A classe de artistas da cidade ficaram super felizes, pois não aguentavam mais esperar por este evento, jornalistas de todos os cantos, ficaram super alegres, pois poderão cobrir um evento que teoricamente é para todos, enfim, muita gente ficando feliz, enquanto um outro tanto de gente nem sabe ao menos o que se passa por aqui. O que me levou a fazer este texto foi o fato de assistir a um programa de televisão e ver o jornalista dizer que ''tem gente na cidade que ignora o festival''. Aquilo foi a gota de sangue que faltava no dente do vampiro... As peças que estão se apresentando em Curitiba tem preços variados. Peças que tem no elenco estudantes de teatro, custam 20 reais, com as promoções oferecidas e as facilidades na compra, é possível encontrar alguma coisa a 10 reais. As peças com atores não tão conhecidos fora do meio artístico tem preços que custam em média 30 reais. Com uma carteirinha de estudande e afins, é possível pagar 15 reais. Peças que precisaram se deslocar de lugares longínquos até esta terra por hora gelada, custam em média de 45 reais a 60 reais, com carteirinha é possível pagar 22,50. E assim os preços vão subindo até alcançarem picos de 70, 80 e 90 reais em alguns casos mais famosos. No bairro onde eu moro, dito de periferia, não conheço ninguém que pague 50 reais para ver uma peça, só por que ali estará o ator ou a atriz da novela tal. E digo isto por conhecimento de causa, que não é falta de cultura por parte deles, é questão de prioridade. Alimento, contas, cultura... Quando o ser humano alcança a terceira palavra, o dinheiro já acabou. Então alguém pergunta, e o futebol? Não estou me referindo a estes, onde a lista de prioridades tem início no próprio esporte, refiro-me àqueles que não se importam muito com tais jogos.

As primeiras reportagens que saíram em relação ao festival de Teatro colocavam os valores do investimento na casa dos 3,5 milhões de reais. Que coisa, tanto dinheiro investido num evento tão grandioso, que metade dos bairros da cidade não sabe o que está acontecendo no centro. Não é de hoje que Curitiba privilegia o centro da cidade, afinal, é pra lá que vão os turistas, por isso aquele lugar é tão bem cuidado. Enquanto isso, que privilégios tem os moradores da Favela da Vila Esperança, os moradores do Campo do Santana, CIC, Osternak, os moradores da Cachimba, do Pirineus, Chapinhal e de tantos outros lugares que o resto da cidade nem sabe que existimos.

Por fim, e as peças de rua, que são de graça? Estas todos podem ver... Exatamente, são de graça mesmo. E não raramente tem dias da semana que apresentam até 5 peças na rua, mas onde? No centro da cidade. O cartaz do evento diz: ''Durante duas semanas a cidade será tomada por diversos espetáculos da Mostra Fringe, que reúne cerca de 300 montagens de companhias independentes de todo o país, e da Mostra Contemporânea, que terá 24 peças selecionadas pela curadoria do festival. O evento conta ainda com eventos paralelos como o Risorama, o Mish Mash e o Gastronomix''. No centro da cidade e ao redor dele, não na periferia. Nenhuma peça destas 300 montagens que aí estão, vem até os bairros mais afastados do centro. Hoje, enquanto eu almoçava na lanchonete do Net's Bar, na troca de um serviço para outro, vi uma reportagem onde o jornalista disse:

''_ Agora tem três peças acontecendo na cidade, e poucas pessoas estão por aqui, as que passam perto de onde está acontecendo o evento, ignoram completamente a apresentação.''

Será que alguém pode dizer a esta mulher que todos que passam por ali estão indo e vindo de um trabalho ou coisa parecida, caso contrário iriam parar, sem sombra de dúvida. Sorte dela que pode ver uma peça na rua enquanto trabalha. Quando o âncora perguntou à reporter onde ela estava, ela respondeu, ''no Largo da Ordem'', praticamente no coração da cidade. O bairro onde moro fica 43 minutos do centro da cidade, isto, indo de ônibus, se for a pé, consigo chegar lá em três horas. Na correria do trabalho, pois atuo na escala de prioridades que privilegia o alimento, não há como servir às peças que são oferecidas de graça a pessoas como eu, que, segundo os jornalistas, ignora o festival de Curitiba. Não é questão de ignorar, é questão de não ter tempo livre e nem dinheiro esquecido no bolso para tal privilégio. Em resposta a tais jornalistas eu poderia fazer-lhes a mesma pergunta, voltando para a minha realidade, enquanto eles dizem que tem gente na cidade que ignora o festival, por duas semanas, tenho o direito de dizer, que tem muita gente na cidade que ignora o lugar onde nós moramos, por mais de 50 anos.

sexta-feira, 12 de março de 2010

PROFESSORES em GREVE




Doze de março de 2010, professores da rede estadual de ensino de São Paulo fecharam a avenida Paulista, armando a passeata que faz parte da greve iniciada no dia 5 de março, sexta-feira. Os docentes fizeram uma passeata até a praça da República, no centro da cidade. O sindicato dos professores do Ensino Oficial de São Paulo, chamado de Apeoesp, informou que 30 mil professores faziam manifestação no local. A Polícia Militar disse que não era pra tanto, segundo eles, o número de docentes ali presentes chegava a 8 mil pessoas. A presidente do sindicato, Maria Izabel Azevedo Noronha fez críticas ao secretário Paulo Renato e ao governador José Serra, segundo o próprio sindicato 80% do magistério paulista está parado.

Os professores paulistas pedem reajuste salarial de 34,3%; incorporação de todas as gratificações, extensiva aos aposentados; plano de carreira; garantia de emprego; fim de avaliações para temporários; e realização de concursos públicos para a efetivação dos docentes. O que não é nada de mais justo, quem é professor vai concordar em gênero número e grau, agora, quem nunca entrou numa sala de aula, desenvolveu uma depressão por estar na sala de aula, e gerenciou uma síndrome do pânico por anos seguidos em sua vida, devido aos traumas da profissão, é claro que vai discordar e chamar os professores de ''vagabundos'', como sempre acontece. Uma coisa é você conhecer o caminho, outra coisa é você andar pelo caminho.

A rede Estadual de Ensino de São Paulo conta com mais de 220 mil professores e 5 milhões de alunos. Segundo a Apeoesp, os professores que compõem o comando de greve estão visitando as escolas para conversar com pais, alunos e professores, explicando o porquê da paralisação. O que também é muito justo, a não ser para aqueles pais que vêem a escola como um berçário creche onde podem deixar seus filhos, no intuito de não terem problemas e irritações em casa; estes com certeza vão reclamar. O que já se tornou comum nos dias atuais. Mais comum ainda serão os comentários dizendo ''coitados dos alunos, sem aula, estes professores não tem vergonha de prejudicar os aluninhos assim?'', para estes posso dizer com conhecimento de causa, aqueles que querem estudar estudam onde estiverem, em casa ou na escola, agora, para 80% dos alunos presentes na escola, aquilo lá é apenas mais um ambiente condenado a depredação, nada além disso. Neste caso me refiro à escola pública, não posso dizer as demais, pois não as conheço... E são justamente estes que pensam em depredar, que mais tarde vão ralar o couro para pagar uma faculdade privada; enquanto sabemos que a grande maioria dos alunos da escola privada, vão ocupar as vagas das universidades públicas.

Enquanto a greve continua, o governo do Estado de São Paulo resolveu cortar os salários dos professores em greve. Segundo a Apeoesp (Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo), 58% da categoria parou as atividades. A Secretaria de Estado da Educação afirma que a paralisação é de cerca de 1% do corpo docente. De acordo com nota da secretaria, os grevistas "terão desconto salarial relativo às faltas, e estão perdendo condição de participar do Bônus por Resultados (...) e também do Programa de Valorização pelo Mérito".(Redação uol, 10/03/10).

Enquanto os professores de São Paulo estão parados, os professores paranaenses prometem parar semana que vem. Os motivos seguem praticamente a mesma cartilha dos professores paulistas. No Rio Grande do Sul os professores combinam para o mês de agosto uma mega operação protesto. Salvador, Alagoas e Maranhão estão cogitando a mesma ideia para os próximos meses. Talvez Sócrates, o filósofo grego, estivera sempre certo, mas o mundo se negou a rever e seguir seus ensinamentos: ''Existe apenas um bem, o saber, e apenas um mal, a ignorância; pois é no problema da educação que assenta o grande segredo do aperfeiçoamento da humanidade''.

Sem sombra de dúvidas, se os professores não precisassem pagar suas contas, sobraria mais dinheiro para comprar remédios...

GLAUCO... tirinhas tristes num 12 de março



Glauco Villas Boas, 53 anos de idade, cartunista, desenhista, e na minha humilde opinião um cérebro privilegiado. O homem que criou inúmeros personagens de tiras de quadrinhos, onde um dos mais famosos era Geraldão; morreu. Mas não morreu por que estava doente, nem por que sofreu um problema sério em seu mundo fantástico, mas sim, por que um animal o matou. Glauco foi morto a tiros em uma tentativa de assalto em sua casa em Osasco, na Grande São Paulo, na madrugada do dia 12 de março de 2010. Pra se aproximar mais ainda dos animais, e que eles não me ouçam, pois não pretendo ofender os animais comparando este ser insignificante que assassinou Glauco, com qualquer espécie irracional; o filho do desenhista, Raoni, também foi morto. Alguns animais matam para se defender, outros matam para acabar com a fome e existem àqueles que matam por matar, talvez instinto assassino, talvez vontade de defender alguma coisa que lhes pertence, talvez apenas por se sentir ameaçado pelo outro... Não há como saber o que se passa na mente dos animais. Muitas pessoas tentam explicar a vontade dos animais, eu confesso que não tenho esta habilidade. Agora, quando o ser humano mata, alguns especialistas aparecem novamente tentando explicar a mente de tal assassino. Ele é louco, ele é doente, ele matou por se sentir ameaçado, ele matou por instinto, ele matou por que não teve sua vontade realizada, ou ele matou por matar? Confesso que também não tenho habilidade para explicar a razão de um assassinato. Em ambos os casos, comparar este assassino com um animal irracional, foi justamente uma forma que encontrei para explicar minha não habilidade em saber o que se passa na mente alheia. Em minha trajetória de vida já fui atacado por animais que simplesmente me atacaram, sem qualquer explicação acima; assim como já fui atacado por seres humanos que simplesmente me bateram, sem que eu ao menos tivesse esboçado qualquer movimento, ou dito qualquer palavra. Por isso, não entendo a mente do outro.

Os bandidos entraram na casa e abordaram a família. Um deles se dizia Jesus Cristo. Glauco negociou com os marginais que iria sair de casa com eles, deixando ali a família sã e salva, mas na saída, um dos filhos chegou. Viu tudo que estava acontecendo e discutiu com os bandidos. O bandido armado chegou a colocar a arma em sua própria cabeça dizendo que iria se suicidar, mas, voltou a arma para os dois homens que estavam a sua frente e não pensou duas vezes atirando no pai e no filho.

Glauco nasceu na cidade de Jandaia do Sul, interior do Paraná. Começou a publicar suas tirinhas no jornal ''Diário da Manhã'', da cidade de Ribeirão Preto, em São Paulo, no começo dos anos 70. Em 1976, foi premiado no Salão de Humor de Piracicaba e, no ano seguinte, começou a publicar seus trabalhos na Folha de São Paulo com longos intervalos de tempo. A partir de 1984, Glauco passou a publicar suas tiras de forma regular no jornal. Entre todos os personagens que ele criou estão Geraldão, Cacique Jaraguá, Nojinsk, Dona Marta, Zé do Apocalipse, Doy Jorge, Ficadinha, Netão e Edmar Bregman, entre muitos outros. Em 2006, ele lançou o livro "Política Zero", reunião de 64 charges políticas sobre o Governo Lula publicadas na página 2 da Folha. Glauco também era líder da igreja Céu de Maria, ligada ao Santo Daime e que usa a bebida feita de cipó para fins religiosos.

Por fim, só nos restou a saudade...

quarta-feira, 3 de março de 2010

TRANSPORTE Coletivo - eu vou...





A primeira foto mostra as pessoas andando de ônibus em Curitiba - PR, a segunda foto mostra os passageiros tentando embarcar num ônibus na cidade de Recife - PE, a terceira foto mostra pessoas andando de ônibus na Índia e a última foto mostra um trem lotado, na Índia também, transporte este que atravessa boa parte da região sul daquele país.

Ontem a tarde não consegui chegar a tempo ao ponto de ônibus, para pegar o buzo das 16:20, cheguei ao ponto as 16:25, então tudo já estava perdido. Ao parar na calçada de cimento branco, olhei para minha direita e vi o transporte coletivo que pego todos os dias se deslocar ao longe. Naquele momento meus olhos seguraram as lágrimas, mas fui forte e não chorei, até por que tinha dois homens de bermuda perto de mim, e uma mulher segurando duas latas de sardinha nos braços cobertos por uma blusa de lã, devido ao frio que fazia na capital do Paraná naquele cair de tarde.

Ao perder o horário do ônibus habitual e rotineiro, eu estava encrencado. Não por que fiz algum tipo de promessa em tomar todos os dias o mesmo carro, mas devido ao fato de encarar uma super lotação no horário das 16:30. E não deu outra. O ônibus chegou torto ao lugar onde eu estava. A porta abriu e vi com olhos tristes aquela parede humana a minha frente. As pessoas se amassavam e se empurravam ao mesmo tempo que continuavam abraçadas umas as outras. Na esperança de que alguém saísse dali para descer, vi apenas um pé se movimentar a minha frente. Um pé calçado num sapato preto, de um senhor idoso que por ali segurava na maleta de um homem jovial, que por sua vez agarrava-se no cabelo de uma senhora, onde esta sim, segurava na barra de apoio do ônibus para não ser lançada ao chão durante uma freada mais brusca. O pé saiu do meio do bolo de pernas, fez um movimento anti horário, aliviou-se por alguns segundos, então seu dono o recolheu para um lugar próximo de onde ele estava, pois aquele espaço que anteriormente ele ocupava já estava ocupado por um outro pé, desta vez feminino.

Perante a parede humana, entrei no carro. Literalmente é como entrar na parede, segurar na tinta, aqui rebocada em forma de corpos humanos, e esperar a porta do ônibus bater nas suas costas, empurrando você mais para o fundo, fazendo seu corpo esbarrar naqueles que ali estão. Eu estava indo trabalhar, mas muitos estavam voltando do trabalho, com suas pizzas enraizadas nas axilas molhadas que espeliam odores nada franceses ao ambiente coletivo.

Por mais uma vez tive meu pé pisoteado. Não encontrei um espaço para apoiar com segurança as minhas mãos, e vi as mesmas grosserias de todos os dias. Embora as condições do transporte não atendam a todas as expectativas, cheguei exatamente no horário previsto, desta vez três minutos antes do momento que chego todos os dias. Isso sem contar que perdi o ônibus que costumo entrar cotidianamente. Talvez seja por este motivo que temos um transporte modelo para o restante do país, como diz a propaganda. Sem dúvida alguma as conexões com passagem única, o horário cumprido e as condições de espera nos tubos, fazem valer a fama do transporte modelo; mas não podemos incluir conforto, segurança e bem estar durante o trajeto. É uma pena que a maioria dos turistas que vem pra cá não vem pra trabalhar e encarar um ônibus lotado no horário de pico, apenas vem passear e conhecer o que há de belo, afinal; são turistas...

O transporte é bom, as conexões são excelentes, o horário é cumprido em 90% dos casos, mas... Faltam mais ônibus. A população deveria se unir e atentar para isso. Exigir mais ônibus seguros e com espaço interno, afinal, pagamos a passagem, não pegamos uma caroninha com o motorista gente boa do biarticulado vermelho. Uma ou duas pessoas gritando são loucas, mas a cidade inteira gritando, é protesto; e mesmo que sejam todos loucos, vira reivindicação, queira ou não queira. A polícia deveria usar a lei do Talião para com os vândalos que quebram os ônibus nos dias de jogos de futebol, fazendo com que a população de bem pague pelos erros alheios, como aumento de passagem e menos ônibus nas linhas. O problema da super lotação já é considerado pelo meu cerébro uma espécie de medo constante na ida até o ponto de ônibus. Acredito que desenvolvi uma espécie de síndrome do pânico com isso. Só de pensar, entro em desespero. Como está acontecendo agora. Talvez isso ocorra pelo fato de só agora olhar para o relógio e perceber que já são 16:23 e acabei de perder o coletivo não tão cheio das 16:20.