Foi o fim, e mais parecia festa de escola de samba vencedora; pois, janeiro acabou. Muita gente espera o fim de janeiro como um evento, afinal, é esse o mês que mais pagamos contas, que mais gastamos e que mais procuramos àquelas moedinhas perdidas pelos cantos da casa, da bolsa, do bolso, do chão, enfim, qualquer coisa que tenha valor no mercado, na panificadora, ou na mercearia está valendo. Janeiro é tempo de voltar das férias, e com isso, voltam também os problemas financeiros e não somente eles, mas também os problemas de um novo ano, o ano que acabou de nascer.
Mas, e para àqueles que não tiveram férias? Que ficaram no mesmo lugar sem arredar o pé na varanda de casa, pois o trabalho não pára, esses também tem problemas em janeiro? No intuito de resolver esse problema fui conversar com meu vizinho, pois ele não viajou, permaneceu em casa todo o tempo esperando o sol nascer a cada dia.
Saí de casa e caminhei lentamente pela calçada até alcançar o portão de entrada da casa do meu vizinho palmeirense. Ele sempre gosta de colocar o assunto futebol em tudo que estamos falando, e dessa vez, não foi diferente. Levei comigo um gravador portátil, para que ele não questionasse minhas anotações, então, com o aparelho no bolso, consegui minha entrevista. Logo que cheguei próximo a ele, perguntei:
_ Boa tarde! Tudo bem hoje?
_ Sim, claro que está tudo bem, não tenho problemas, e você, têm? Pelo jeito não tem problema algum, pra ficar andando por aí durante o dia._ ele me encarou.
_ Não, não tenho. Estou fazendo uma pesquisa sobre os problemas que enfrentamos em janeiro, o senhor poderia me dar um pouco de atenção?_ abri o jogo.
_ Atenção? Como assim? O que você quer?_ ele não gostou da abordagem.
_ Seguinte. Sempre todo mundo está sem dinheiro em janeiro, por causa das viagens e coisa e tal, e o senhor, passou esse mês com dinheiro, ou teve problemas com isso também?
_ Foi o pior mês, você sabe por quê?
_ Viagem?_ arrisquei dizer o óbvio.
_ Não, fim de ano. Presente pra um monte de gente, comilança, carne jogada fora, parente que vem, parente que vai, essa merda toda que você já sabe. O pouco que sobra vai pra IPVA, IPTU, seguro de carro, ALUGUEL, caderno, caneta e lápis pra escola, comida, água, luz, telefone, e mais uma pá de coisa ruim que cai nas nossas costas.
_ Sei como é. Entendo perfeitamente._ concordei.
_ Pra variar um pouco o governo vai subir a gasolina, daí já viu, sobe a gasolina, sobe tudo. Você não concorda comigo?
_ Concordo._ respondi.
_ Concorda nada, você nem está chegando do trabalho agora.
Fiquei quieto. Por alguns segundos só olhei para ele.
_ Isso é você. Está com esse sorriso desgraçado para o meu lado só porque o seu Corinthians ganhou ontem?_ ele me provocou.
_ Não, não estou com nenhum sorriso desgraçado. Estou de boa.
_ Está querendo debochar do meu verdão? Quer comprar briga comigo?
_ Imagine, eu só precisava conversar com o senhor sobre isso pra ver que eu não estava errado, pois também gastei bastante em dezembro.
_ Você viajou. Você é professor, é vagabundo, por isso tem dinheiro sobrando. Seu anormal._ ele apontou o dedo pra minha cara.
Agradeci e fui embora. Nenhuma enquete pode ser construída a partir de um único entrevistado, mas, ao que tudo indica, com a minha realidade e com a realidade do meu vizinho, posso reconhecer dentro da normalidade que quem não gastou em viagem, gastou ficando em casa mesmo, pois alguém viajou indo pra lá. No fim das contas, a viagem está envolvida no problema novamente, mesmo que seja indiretamente ao gastador. Embora em fevereiro o carnaval acabe de enterrar àqueles que pouparam um pouco até agora, pensando em beber todas nessa festa do álcool, janeiro ainda lidera à lista como o mês mais desfavorável ao dinheiro suado do nosso trabalho. Por fim, janeiro passou, e com ele, as contas mais pesadas do impostômetro residencial.
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