''Quando acertamos ninguém se lembra, quando erramos ninguém se esquece''

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

ELITE da TROPA 2


''A culpa é do sistema'', disse o coronel Nascimento, mas quem colocou o sistema lá no poder? O inimigo agora é outro. O inimigo agora é muito mais forte do que se imaginava. O inimigo agora não vem com drogas nas mãos, vem com algo muito além disso.
Quando saí de casa para assistir ao filme TROPA DE ELITE 2 evitei ler os comentários que enchem a mídia brasileira neste momento. Evitei ver imagens do filme, como o trailer repetidas vezes, embora tenha visto duas vezes, ele não me contara muita coisa do que vi na tela. A produção está cada vez melhor. A fotografia dispensa comentários. As atuações são excepcionais. A direção nem se fala. Comandar as cenas do BOPE entrando na favela deve ter sido um momento único para todos que estavam envolvidos na equipe. E o que eu não faria para ser um simples mosquito voando no set naquele momento.
Coronel Nascimento comanda a entrada do BOPE no presídio de BANGU I. A operação não sai conforme ele planejou, e ele paga o preço por isso. Como punição deve atuar de terno e gravata em boa parte do filme. Que coisa. Mesmo não vendo ele rastejar pelo esgoto em busca de traficantes que cuidavam de um ponto de drogas, o filme não perde o brilho. É genial a cada cena apresentada na tela.
O roteiro de José Padilha, Rodrigo Pimentel e Bráulio Mantovani nos leva a pensar em cada fala narrada por Wagner Moura. Cada palavra parece estar sendo dita para cada um de nós. Disse a voz mais exaltada do cinema: ''se este filme tivesse passado antes da eleição, iria mudar muita coisa nas urnas''. Talvez não, ou talvez sim. Quem sabe? Ninguém. Talvez seja por isso que o lançamento do filme tenha sido colocado para depois da eleição de primeiro turno, ou será ''uma incrível coincidência com a realidade que nos cerca'', como diz a legenda no início da película.
A política está presente na trama. Os policiais estão envolvidos com tudo que acontece ao redor desta mesma política, e por fim, é esta mesma política que envolve os policiais na sua própria política. Uma rede de interesses, corrupção, crimes e queimas de arquivos.
Se é preciso existir o mal para que o bem saiba sobreviver em meio a ele, então o filme cumpre com esta missão, a missão de nos fazer pensar. E pensamos muito. Logo que o filme acabou, fiquei estático na poltrona, não conseguindo me levantar. Fiquei ali, pensando e raciocinando em cima das últimas palavras do coronel Nascimento. Os créditos surgiram na tela e eu continuei por ali. As imagens pararam de passar na tela, o projetor foi desligado, e eu continuava ali. Saí da sala pensando no que vi e ouvi, confesso que há muito tempo um filme não me levava a pensar desta forma. Por alguns instantes pensei ser a pessoa mais influenciável do planeta, pois em pouco mais de duas horas remoí conceitos e revi meus preconceitos e escolhas feitas ao longo dos tempos. Em casa, cinco horas depois, eu chegava a um questionamento plausível para tanta reflexão. Não fora o filme que me influenciara de tal forma a passar horas e horas pensando nas palavras de um personagem de ficção, mas sim minhas escolhas erradas ocorridos num passado não muito distante, que me levara a perder tantas horas no dia de hoje refletindo sobre o que tanto errei. E se pensei desta maneira, foi por causa do filme. Ele deu o empurrão que faltava para eu me sentir sozinho, um ser subdesenvolvido pensante, inserido num grande caldeirão de seres não pensantes. Muito bom, excelente, o melhor filme que vi neste ano... Excepcional.