''Quando acertamos ninguém se lembra, quando erramos ninguém se esquece''

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

O HOMEM COM O CELULAR Na orelha, o CAIXA ELETRÔNICO e o gerente ENGRAVATADO




Eu estava no banco, no saguão de entrada, em pé, numa fila com cinco pessoas, onde eu era o quinto elemento, esperando para usar o caixa eletrônico; iria sacar o dinheiro para pagar as contas de luz e água. Enquanto esperava para usar o aparelho percebi que um homem, vestindo cinza, olhava para todos os lados e não tirava um aparelho celular da orelha. Ele conversava baixinho com alguém e não era possível escutar o que ele dizia. Depois de alguns minutos ele saiu pela porta do banco, e foi embora. Talvez fosse só um cliente do banco desesperado por encontrar sua mulher no exato momento que ela saísse do escritório onde trabalha, para que os dois pudessem almoçar juntos, pois era horário de almoço. Talvez fosse um amante de uma grande madame, marcando encontro nas proximidades do banco, pois há um motel na esquina. Talvez fosse um amante de uma pobre mulher, insatisfeita no casamento desgastado de muitos anos, onde o marido só lhe trouxera desgosto e sofrimento. Quem sabe não era um amigo esperando por outro amigo. Talvez pudesse ser um eterno apaixonado preparando uma surpresa à mulher que ele tanto venera. Ou ainda, quem sabe, pudesse ser um golpista, ou até mesmo um ladrão...

Pensei melhor na última hipótese, pois a situação começava a ficar sinistra em minha mente. Saí da fila onde eu estava e fui até o lugar onde ele estava. Observei que daquele lugar ele tinha uma visão privilegiada dos botões de todos os caixas eletrônicos; tudo bem, e daí, você pode pensar, mas eu explico onde o meu raciocínio foi. Observei dali um dos clientes sacando dinheiro, ele colocou o cartão na máquina, a máquina não pediu senha, pois este cliente tem um cartão com chip, onde a senha já está inserida no cartão, logo após isso ele retirou o cartão da máquina, a máquina então lhe apresentou uma série de letras expostas na tela, ele digitou as letras, apertando duas vezes o primeiro botão e uma vez o último botão da segunda coluna. Tudo bem até aí, o negócio é que quando a máquina iria realizar a operação, sabe lá por qual motivo, ele cancelou o processo e começou tudo de novo. Continuei observando e ele realizou o mesmo procedimento, inclusive com as letras, digitando duas vezes o primeiro botão e uma vez o mesmo último botão da segunda coluna. Aquilo me chamou atenção na mesma hora. Deixei o lugar onde ele estava, e agora estivera ocupado pela minha pessoa, e caminhei até a mulher que distribui senhas para o uso dos serviços internos do banco. Antes que ela me desse uma senha, andei até o segurança e perguntei a ele:

_ Você pode me dar uma informação, quando eles trocam a sequência de letras do caixa eletrônico?

_ Como assim?_ o homem não entendeu minha indagação, então repeti com mais clareza.

_ O caixa eletrônico, quando eu coloco meu cartão ali dentro, ele pede uma sequência de letras, para que eu possa continuar a operação, quando a sequência de letras é trocada, você pode me dizer?

_ Toda sexta-feira._ respondeu o guarda.

Não colocando muita fé na resposta do homem, decidi ir conversar com um dos gerentes que ali trabalham. Peguei a senha com a moça da entrada, e caminhei até uma das mesas de atendimento, já dentro do grande saguão da agência bancária. Logo que me acomodei na mesa, cumprimentei o homem e lhe fiz a mesma pergunta. O homem, portando um bigode considerável, não soube me responder de imediato, então chamou o segurança que estava em pé, próximo a porta, e fez a mesma pergunta que eu lhe tinha feito. O guarda respondeu sem titubear:

_ Toda sexta-feira._ não houve climão algum, por se tratar de outro segurança da agência, menos mau.

Ao juntar as peças, comentei com o gerente:

_ A maioria dos cartões do banco vem com o chip onde já está a senha, a sequência de letras apresentada no caixa eletrônico não muda de uma operação pra outra, somente na sexta-feira, ou seja, quem roubar o seu cartão e observar o que você faz no caixa eletrônico pode limpar sua conta.

Ele pensou um pouco e me respondeu:

_ É só tomar cuidado com os procedimentos que você faz no caixa eletrônico, a gente não pode se responsabilizar por isso, a senha no cartão foi colocada pra facilitar as operações.

_ Tudo bem, mas você podia mandar um e-mail pra alguém, ou comunicar algum chefe seu para que a sequência de letras seja trocada de uma em uma hora, ou o tempo todo?

_ Não, isso é humanamente impossível, não há como fazer. Mas eu vou mandar um e-mail falando sobre isso.

_ Obrigado._ agradeci pela atenção.

Levantei e saí do lugar. Já se passaram dois dias daquele momento e as letras ainda continuam do mesmo jeito, na mesma sequência. Se você fizer 30 operações no caixa eletrônico antes de sexta-feira, e nas 30 vezes a máquina pedir pra você digitar as letras, elas estarão na mesma posição. Pelo menos nos bancos que tenho ido tem acontecido isso; não posso responder pelo resto do país. Enfim, o que nos resta a fazer é seguir os sábios ensinamentos do gerente que me atendeu: ''É só tomar cuidado com os procedimentos que você faz no caixa eletrônico'', ou ainda, usar o caixa eletrônico somente aos sábados, pois as letras já estarão trocadas e você poderá se sentir um pouco mais seguro... Por fim, peço a Deus que aquele suposto golpista não leia este texto.

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