O Estado do Rio de Janeiro foi tomado por uma forte chuva no dia 6 de abril, ontem. Ruas estão alagadas, pessoas estão desabrigadas, gente morreu; até o último boletim publicado o saldo era de 95 mortos, neste momento este número já deve ter quase dobrado, aulas estão suspensas, e agora pela manhã o prefeito disse para as pessoas evitarem sair de casa. Carros foram arrastados pela água como se fossem barquinhos. Pessoas corriam na tentativa de salvar outras pessoas, e acabavam sendo arrastadas pela água.
Ao ligar a televisão para saber um pouco mais sobre as notícias vindas de lá, vi um jornalista demonstrando preocupação com o problema afetado ao futebol. Imagens do estádio do Maracanã foram mostradas, onde o gramado, ontem, estava totalmente tomado pela água, e hoje, já estava quase sem água, devido a drenagem; enquanto o jornalista com a voz trêmula, dizia num ar de indignação, como se alguém tivesse culpa pelo que aconteceu, que o jogo do flamengo que seria realizado ontem, teve de ser adiado por causa da chuva. E daí? Como diz o jornalista Milton Neves, ''futebol é a coisa mais importante dentre as menos importantes'', quem se importa com um jogo quando tem gente se amontoando pelas ruas, com fome, com dor, e sem ter mais um lugar para morar? Pelo amor de Deus! Talvez até os torcedores mais fanáticos tenham esquecido do jogo, vai saber.
Com a água baixando e a chuva diminuindo pouco a pouco, começam os problemas. Num boletim divulgado as dez horas da noite, políticos que visitavam o lugar começaram a se acusar. A culpa é de quem? Talvez depois de tanto empurra empurra, culpem São Pedro, por ter mandado a chuva. É mais aceitável nesta ocasião, pois este culpado não precisará responder nada. Pior do que ficar acusando quem não fez o quê no passado, são os pedidos de verbas, que já começaram. Dinheiro para reconstrução disso e daquilo, jornalistas esportivos já começaram a procurar soluções para o piso do estádio do maracanãzinho, que ''tem uma agenda de eventos lotados até outubro, e isso não pode parar''. Disse o homem. Estádio este que vai receber um piso de borracha para dar continuidade aos eventos ali realizados, para alívio dos agendados.
Então pergunto: por que não pode parar? Por que o esporte é mais importante? Por qual razão não se pode cancelar uma Copa do Mundo, ou Olimpíadas, que seja, para investir o dinheiro que seria investido em estádios e vilas olímpicas; em infraestrutura e melhores condicões de sobrevivência, não só para estas pessoas que perderam tudo, mas para tantas outras que vivem em condições iguais ou piores de vida? Por que o esporte é mais importante que a alimentação de brasileiros desnutridos, que pouco têm, e pouco conseguem em sua existência, devido ao fato de não ver a possibilidade de criar oportunidades em suas vidas?
Os mais críticos dirão: para isso já pagamos impostos. Sim, e pagamos muito imposto, mas... Pra onde vai o dinheiro de tanto imposto, que pouco vejo ser aplicado no dia a dia. A rua que passa em frente a casa onde moro tem mais de 40 crateras, pois já evoluíram da condição de simples buracos, este problema se estende há mais de 10 anos. Um detalhe, eu não parei de pagar meus impostos nestes 10 anos, mas eles pararam de fazer asfalto. Pra onde foi o dinheiro? Para a saúde? Senti problemas de saúde no mês passado, fui ao posto de saúde, esperei por 2 horas e 51 minutos. O médico tirou minha pressão e agendou um exame para o mês de agosto. Talvez até lá minha saúde não esteja mais por aqui. Por que tão longe? Por que tem muita gente na frente. E pra onde vai o dinheiro dos impostos que não pode contratar mais médicos, construir mais hospitais ou mais postos de saúde? Talvez estejam sendo investidos em pisos de borracha, que custam em média 50 a 90 mil reais, ou até mesmo em construções e reformas de estádios de futebol. Por que Deus nos livre de um gramado ficar com poças de água e a bola não correr durante o jogo.
No ano passado (2009), depois de um jogo realizado no Estádio Couto Pereira, em Curitiba, na capital do Paraná, onde a torcida do Coritiba, após ver o time ser rebaixado para a segunda divisão de um campeonato de futebol, entrou em campo e destruiu mais da metado do estádio, jogando cadeiras e placas de publicidade em cima de policiais e quem quer que fosse que ali estivesse. Naquele instante, pensei, pra quê realizar uma copa do mundo num lugar assim? A violência se estendeu pelas ruas, onde incontáveis ônibus foram depredados, apedrejados e destruídos. Estações tubo foram arrebentadas. Senhoras e senhores inocentes que faziam uso dos ônibus naquele momento, receberam pedradas depois que os vidros dos carros foram quebrados. No desespero, motoristas tentavam se livrar de vândalos que corriam para cima de quem estivesse na rua. Pessoas foram atropeladas, pisoteadas e a polícia não venceu prender tanta gente destruindo o centro da cidade. Após o quebra quebra no centro, a violência foi se espalhando para os bairros. Por fim, perguntei novamente a minha memória de mastodonte, pra quê realizar uma copa do mundo num lugar assim? Pra que investir tanto dinheiro naquilo que serve para diversão e por fim pode acabar em morte?
Faço a mesma pergunta neste momento a minha mesma memória de mastodonte, pra quê pensar em esporte num momento de tragédia como este? Pra quê manter o plano de gastos infinitos na construção de um monte de coisa, e reforma de mais um outro monte, se tem uma galera que não tem a mínima condição de sobrevivência neste país? Os mais radicais irão dizer que não adianta dar o peixe, tem que ensinar a pescar; mas, aí entra outra pergunta: pescar onde? Se nem as condições para pescar uma grande maioria tem.
Por enquanto, resta esperar a normalidade. Enquanto o presidente lança o PAC2 sem ao menos ter concluído o PAC1, políticos tentam driblar a opinião pública, na tentativa de fazerem os mais desatentos esquecerem, que estes mesmos políticos já foram acusados por crimes de corrupção, e agora estão aí, alegres, no intuito de se candidatarem e por mais uma vez serem eleitos com mérito; mesmo assim, alguns outros estão preocupados com os danos causados ao esporte após a chuva forte que atingiu o refúgio carioca.
Não se espantem quando os pedidos de dinheiro começarem a surgir, e alguém, lá no fundo do poço, gritar que a culpa está naqueles que dividiram o dinheiro do pré-sal...
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