''Quando acertamos ninguém se lembra, quando erramos ninguém se esquece''

sábado, 12 de outubro de 2013

a CENSURA no BRASIL

 
Não é de hoje que a censura caminha por todos os meios de comunicação, sejam eles orais ou registrados. Quando eu estava na escola ouvia falar dessa tal de censura, mas não sabia direito o que era, talvez por que censuravam algumas palavras na hora de me contar. Então eu comecei com esse negócio de escrever. Escrevia sobre tudo e sobre todos, até que um dia, dentro da minha própria família disseram que eu não podia escrever sobre determinados assuntos. Foi então que me lembrei da velha frase que me acompanha desde sempre: ''cuidado com o que você fala''. A partir de então, passei a entender o que era censura.
Quando eu trabalhava num jornal, sofri minha primeira censura. No meio do texto que eu escrevia pra ser publicado no sábado, coloquei uma referência à religião, nada grave, apenas citei o nome de uma religião, mas, o editor entendeu que àquilo poderia manchar a imagem do jornal e antes de pedir que eu mudasse a frase, resolveu cortar o parágrafo inteiro. Ou seja, o texto foi publicado totalmente sem nexo.
Então comecei a desenhar e fui trabalhar em outro jornal, ali sofri minha segunda, terceira e quarta censura, tudo por conta de desenhos que faziam referência a momentos engraçados do dia a dia daquela comunidade. Era constante ouvir: ''dessa família não se pode falar nada, daquela pessoa não cite nem o nome, o que aconteceu ontem com aquele casal você não viu nada''. Percebi que criar piadas e escrever sobre coisas verdadeiras irrita muitas pessoas. E muitos seguem esses mandamentos não por que querem, mas porque precisam daquele emprego pra sustentar a família.
Na minha adolescência passei a ler biografias. Intrigava-me o fato de ler biografias bonitas, apresentando muitos momentos felizes de uma vida vivida intensamente, sem nunca quase nada dar errado. Curiosamente essas vidas felizes estavam presentes nas biografias de pessoas ainda vivas, e nas biografias daquelas que já estavam mortas, nem sempre os momentos eram tão alegres assim. Em algumas conversas com pessoas que trabalham com isso, surge novamente a palavra censura. O tempo passou e essa palavra atravessou o meu caminho milhares de vezes. 
Hoje, estamos em 2013, e isso ainda está mais presente do que nunca.
Em todos os lugares que trabalhei sempre houve censura, como ainda há. Sempre você ouve uma frase do tipo: ''não dá, isso não pode, isso você não vai fazer, isso é um absurdo''. O pior é quando você começa ver isso como uma coisa normal. Isso não é normal, não para um país que se diz democrático, o que convenhamos, até a palavra democracia está sendo censurada dia a dia.


No último sábado a palavra censura voltou a rondar os meios de comunicação, pois foi publicado uma reportagem com a produtora Paula Lavigne, porta-voz do grupo PROCURE SABER, formado por músicos como Caetano Veloso, Chico Buarque, Milton Nascimento, Gilberto Gil, Djavan e Erasmo Carlos; onde afirmou ao jornal ''Folha de S.Paulo'' que esses citados músicos estavam se mobilizando pra impedir a mudança na legislação que submete a publicação de biografias à autorização dos biografados. E logo o Caetano que cantava algum tempo atrás; ''é proibido proibir...''. Enfim.
No meio de toda essa galera está também Roberto Carlos que conseguiu na Justiça a proibição do livro publicado sobre ele com o título: ''Roberto Carlos em Detalhes'', do escritor Paulo César de Araújo. Roberto se irritou porque o autor fez referência à perna mecânica que ele usa. Ué, e qual é o problema em usar uma perna mecânica? Isso era razão pra destruir o trabalho do cara? Enfim, a censura não se importa com esse tipo de pergunta. Outro membro do ''Procure Saber'' que também teve uma biografia lançada é Gilberto Gil. O livro tem o título de ''Gilberto Bem de Perto'', escrito a quatro mãos por ele mesmo Gilberto Gil e a jornalista Regina Zappa. Esse não foi censurado, por que ele mesmo escreveu sobre ele; pelo menos na parte dele, e a jornalista... pôde escrever tudo que ela queria?
Esse grupo de cantores que agora quer ver tudo antes de ser publicado, é o mesmo grupo que em julho conseguiu pressionar o Senado a colocar em pauta e aprovar o projeto de lei que modifica as regras de arrecadação e distribuição de direitos autorais musicais. Segundo o biógrafo, historiador, jornalista e escritor Ruy Castro, ''é preocupante como essa meia dúzia de artistas pode ter tanto poder no Senado''.
Curiosamente, enquanto eu escrevia esse post a mídia publicou a seguinte notícia: ''Familiares barram biografia de Paulo Leminski por trecho sobre suicídio''. Ué, o homem não cometeu suicídio? Então, por que não falar o que houve? Talvez isso aconteça devido ao fato da viúva não ter direito a nenhum centavo na vendo dos livros, cujo trabalho foi do autor Toninho Vaz. Ruy Castro enfatizou na feira de livros em Frankfurt que ''ninguém fica rico vendendo esse tipo de livro... se ficasse ele pagaria alguém pra fazer as entrevistas''. O livro foi lançado pela primeira vez em 2001, e foi autorizado pela mulher de Leminski, sem participação nos direitos autorais da obra. Agora, quando ia ser lançada a quarta edição do livro, a viúva e as filhas entraram com uma ação na justiça dizendo que o trecho do suicídio é: ''depreciativo a imagem do biografado e dos seus familiares''. A editora então cancelou a publicação. Bem, se isso não é censura; não pode ser somente vontade de ganhar dinheiro em cima do trabalho do outro.

Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2013/10/1355297-familiares-barram-biografia-de-paulo-leminski-por-trecho-sobre-suicidio.shtml / http://entretenimento.uol.com.br/noticias/redacao/2013/10/11/perguntei-se-o-biografo-vai-pagar-um-dizimo-ao-biografado-diz-ruy-castro.htm

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