No dia 02 de dezembro de 2007 o Fórum de Entidades Nacionais de Direitos Humanos, com texto de Marly Quadros publicou a seguinte informação: ''Mais de cinco mil dos 22 mil professores do Estado do Pará têm problemas nas cordas vocais''. ''A rotatividade de professores nas salas de aula é grande e uma pesquisa da Secretaria de Educação do Estado apontou que a maioria dos docentes afastados de suas funções atualmente sofre com problemas nas cordas vocais. Eles somam mais de cinco mil dos quase 22 mil professores que integram o quadro funcional da Seduc. Nas escolas municipais, a situação não é muito diferente. O mesmo problema afeta 30%, ou seja, pelo menos 90 dos mais de 300 profissionais ligados à Secretaria Municipal de Educação que costumam se ausentar da sala de aula a cada mês. Se for considerado o ano letivo completo, este número sobe para pelo menos 3.300 pessoas atingidas''. Este tipo de problema deixa faz com que os professores se afastem de sala de aula em média de 60 a 90 dias corridos, por ano.
''O professor está doente. Excesso de trabalho, indisciplina em sala de aula, salário baixo,
pressão da direção, violência, demandas de pais de alunos, bombardeio de informações,
desgaste físico e, principalmente, a falta de reconhecimento de sua atividade são algumas
das causas de estresse, ansiedade e depressão que vêm acometendo os docentes brasileiros''.
(Revista Educação, 2007)
''A atividade de ensino já foi vista como função de alto valor social, interpretada como um "dom", um "sacerdócio", valorizada por todos os cidadãos e assumida pela sociedade como uma atividade pública. Nos últimos tempos, com o predomínio e expansão das relações capitalistas, essa atividade perdeu completamente este sentido''. (SINPROBA - filiado a Cut. CONTEE)
No Brasil, estudos que abordam as condições de saúde e trabalho dos professores quase não existem. Na segunda metade da década de 90, foram produzidos alguns estudos sobre este assunto. Condições de saúde e de trabalho dos professores em escolas públicas. É claro que tudo que você lerá a seguir é preocupante para um professor, para quem não é, serve apenas como estatística. A investigação de Codo et al. (1998) sobre a saúde mental dos professores de 1o e 2o graus em todo o país, abrangendo 1440 escolas e 30.000 professores, revelou que 26% dos professores da amostra estudada apresentavam exaustão emocional (cerca de 1 professor a cada quatro estudados). Essa proporção variou de 17% em Minas Gerais e Ceará a 39% no Rio Grande do Sul. A desvalorização profissional, baixa auto-estima e ausência de resultados percebidos no trabalho desenvolvido foram fatores importantes para o quadro encontrado. (SINPROBA - filiado a Cut. CONTEE)
Ruiz et al. (1995), investigaram a demanda de professores de 1o e 2o graus da rede pública de Sorocaba, São Paulo, num ambulatório especializado em saúde ocupacional. A demanda por atendimento foi periódica nos semestres: no começo do ano era pequena, nos meses seguintes aumentava, no início do 2o semestre voltava a diminuir e, novamente, aumentava no final do ano. Durante as férias, a demanda registrada era mínima. Segundo os autores, esse comportamento da demanda favorece a hipótese de que a procura do cuidado médico e, consequente afastamento do trabalho, aumentava no decorrer do período letivo, revelando um desgaste crescente dos professores. Dentre as doenças mais freqüentes encontraram a laringite, que representou 39,8% dos diagnósticos realizados, seguida pela asma ocupacional (15,3%), alergia ocupacional (6,8%) e lesões por esforços repetitivos (LER). Carvalho (1995), estudando professoras primárias na cidade de Belém, encontrou níveis mais elevados de suspeição de sintomas psíquicos (de acordo com o instrumento de detecção utilizado: o MMPI), em escolas onde se relatou um relacionamento menos democrático com a direção, do que naquelas onde predominavam relações mais democráticas.
Em Salvador, Bahia, o CESAT (Centro de Estudos em Saúde do Trabalhador), órgão da Secretaria de Saúde do Estado, em um estudo da demanda do Ambulatório no período de 1991 a 1995, registrou o atendimento de 76 docentes. Das pessoas atendidas 93,4% eram mulheres, com faixa de idade predominante entre 40 a 49 anos. Após avaliação, 46 educadores (60.5%) foram diagnosticados como portadores de doenças ocupacionais. As doenças encontradas foram: calos nas cordas vocais, 41.3% dos casos, rinosinusite, 34.8% dos casos, asma, 13.0%, Lesões por Esforços Repetitivos, 6.5%, dermatose, 2.2% e varizes, 2.2% (CESAT, 1997).
Estes dados apresentados pelo SINPROBA, revelam um conjunto de repercussões nocivas do trabalho na saúde dos professores, ainda que a visibilidade dessas repercussões não seja tão evidente como em outras categorias profissionais. Entretanto, a grande maioria desses estudos investigou escolas públicas. Considerando que o processo de trabalho docente em escolas particulares, em muitos aspectos diferem, drasticamente, das escolas públicas, torna-se necessária a avaliação da saúde dos professores, no contexto específico das escolas particulares. Esta preocupação já ultrapassou o contexto da necessidade, alcançando um grau de caráter obrigatório avaliar a saúde do professor brasileiro. E, de acordo com o número crescente de novas escolas surgindo no Brasil anualmente, principalmente particulares, corremos o risco de ver o professor entrar em extinção. O que para muitos alunos seria um sonho realizado.