''Quando acertamos ninguém se lembra, quando erramos ninguém se esquece''

terça-feira, 27 de outubro de 2009

A FIGURA DO PROFESSOR


Dias atrás alguns professores comemoraram o dia do professor, como naquela ocasião eu não tinha muito o que comemorar, não levantei esta bandeira. Alguns professores reclamam do salário que ganham, e com razão, ele não é tão bom quanto deveria, ou não é suficiente pela carga de estresse que passamos em sala de aula dia a dia. Só quem enfrenta uma quinta série, com 48 alunos querendo destruir você todos os dias, tem o direito de dizer que esta profissão é estressante, os demais, apenas dialogam com alunos que ali estão. O mais incrível é ligar o rádio, numa conceituada emissora de São Paulo, e ouvir uma mulher que se diz psico alguma coisa, chamar os professores de preguiçosos e reclamões. Dizer que ser professor tem a mesma carga de estresse que outras profissões, qual será que ela estava se referindo? Um policial, talvez... Acredito que um policial tenha a mesma carga de estresse que nós temos, com uma diferença, ele não é obrigado a ficar parado diante de uma agressão, tanto verbal como física. Ele pode reagir, afinal, pouquíssimas pessoas tem sangue de ''barata'' neste mundo.

Criticar o outro é fácil, e muita gente faz isso. Falamos de políticos, que não fazem nada, falamos de médicos que não trabalham direito, falamos de motoristas de ônibus que fecham a porta na nossa cara quando já estamos quase entrando no veículo, falamos de advogados que não advogam de forma correta, falamos de funcionários públicos que enrolam no serviço, falamos de bancários que fazem greves, e chamamos professores de vagabundos, quando estes pedem maiores salários. Aliás, isso ficou marcado na vida dos professores. Não há manifestação que seja, para pedir qualquer coisa, por parte dos professores, que não receba esta acusação, maiores salários. Sempre, parece que esta classe só sabe fazer isso.

Se os profissionais da educação param para pedir redução de alunos em sala de aula, a imprensa diz: querem maiores salários. Se os professores param de trabalhar para pedirem menos violência nas escolas, a imprensa solta a manchete: professores pedem maiores salários. Se os professores pedem aumento de hora atividade, a imprensa solta: professores novamente querem maiores salários, aí então, os professores fazem uma paralização pedindo um piso salarial e a imprensa, já cansada, deixa de escrever: olha aí ta vendo, a gente avisou, eles só querem maiores salários. Que coisa estranha acontece nesse mundo estranho.

Que a classe docente não é unida, todo mundo já sabe. Que a classe docente está sendo massacrada dia a dia, todo mundo já sabe também. Que os alunos fazem o que querem e o que não querem dentro de uma escola, isso já é sabido de todo o planeta. Menos para os teóricos, psico alguma coisa, que ainda ficam horrorizados quando ouvem a notícia: ALUNOS FAZEM SEXO DENTRO DO COLÉGIO. E tem teórico, que nunca entrou em sala de aula, sabe lá Deus se tem filho esta pessoa, ou até mesmo já ouviu falar em adolescente, vir até os microfones da imprensa pra dizer: ''Isso é um absurdo! O que uma ''criança'' de 13 anos sabe sobre sexo?'' Pelo amor de Deus, volta pra Marte, lá não deve ter isso na televisão, nas bancas de jornais, nas conversas de amigos e nos desenhos animados. O que mais me indigna não é ouvir tal asneira, mas sim a complementação que segue tal fala. Conclui o psico não sei o quê: ''Isso com certeza é culpa da escola e dos professores que não estão orientando estes alunos''. Meu Deus...

Quando se trata de adolescentes a culpa deve ser de alguém, menos dos adolescentes. Por volta de 40 anos atrás a culpa era da família, lugar onde este adolescente nasceu e foi criado. Passado algum tempo, a culpa passou a ser do governo, mas o governo tratou de fazer leis e livrar-se da responsabilidade, então estudar tornou-se obrigatório, sendo assim, a culpa é da escola, pois é lá que este adolescente deve estar na maior parte do tempo, de certa forma, a escola é culpada.

De qualquer forma, é o professor quem aguenta as piores coisas em seu turno de trabalho. Aguenta crianças e adolescentes no auge da falta de educação. Aguenta agressões verbais, aguenta pressões psicológicas descomunais, sofre com problemas sérios de saúde, como síndrome do pânico, quadro de depressão e problemas físicos, como dores no ombro, na visão, no joelho, nas costas, nas articulações em geral. É ele quem tenta convencer os pais que os filhos estão no caminho certo e por isso ele ainda continua ensinando algo para aquele ser humano; embora os pais quase nunca lhe dão razão, e sempre é ele quem está errado, mesmo assim ele tenta. Caso a figura do professor não estivesse presente nas escolas, o futuro de alguns não teria rumo certo. Os alunos não saberiam em quem se espelhar, na falta de um exemplo em casa, e ninguém estaria lendo este texto agora.

Dias atrás recebi um texto, cuja identificação remete a um autor desconhecido. Para fechar tal argumentação, cito o mesmo na sequência. O escrito chegara até minha pessoa identificado com o título: O FIM DOS PROFESSORES. Diz a estória que por volta do ano 2.209 D.C., ou seja, daqui a duzentos anos, em uma conversa entre o avô e seu neto, o menino fará a seguinte pergunta:
''– Vovô, por que o mundo está acabando?
A calma da pergunta revela a inocência da alma infante. E no mesmo tom vem a resposta:
– Porque não existem mais PROFESSORES, meu anjo.
– Professores? Mas o que é isso? O que fazia um professor?
O velho responde, então, que professores eram homens e mulheres elegantes e dedicados, que se expressavam sempre de maneira muito culta e que, muitos anos atrás, transmitia conhecimentos e ensinavam as pessoas a ler, falar, escrever, se comportar, localizar-se no mundo e na história, entre muitas outras coisas. Principalmente, ensinavam as pessoas a pensar.
– Eles ensinavam tudo isso? Mas eles eram sábios?
– Sim, ensinavam, mas não eram todos sábios. Apenas alguns, os grandes professores, que ensinavam outros professores, e eram amados pelos alunos.
– E como foi que eles desapareceram, vovô?
– Ah, foi tudo parte de um plano secreto e genial, que foi executado aos poucos por alguns vilões da sociedade. O vovô não se lembra direito do que veio primeiro, mas sem dúvida, os políticos ajudaram muito. Eles acabaram com todas as formas de avaliação dos alunos, apenas para mostrar estatísticas de aprovação. Assim, sabendo ou não sabendo alguma coisa, os alunos eram aprovados. Isso liquidou o estímulo para o estudo e apenas os alunos mais interessados conseguiam aprender alguma coisa. Depois, muitas famílias estimularam a falta de respeito pelos professores, que passaram a ser vistos como empregados de seus filhos. Estes foram ensinados a dizer “eu estou pagando e você tem que me ensinar”, ou “para que estudar se meu pai não estudou e ganha muito mais do que você” ou ainda “meu pai me dá mais de mesada do que você ganha”. Isso quando não iam os próprios pais gritar com os professores nas escolas. Para isso muito ajudou a multiplicação de escolas particulares, as quais, mais interessadas nas mensalidades que na qualidade do ensino, quando recebiam reclamações dos pais, pressionavam os professores, dizendo que eles não estavam conseguindo “gerenciar a relação com o aluno”. O professores eram vítimas da violência – física, verbal e moral – que lhes era destinada por pobres e ricos. Viraram saco de pancadas de todo mundo. Além disso, qualquer proposta de ensino sério e inovador sempre esbarrava na obsessão dos pais com a aprovação do filho no vestibular, para qualquer faculdade que fosse. “Ah, eu quero saber se isso que vocês estão ensinando vai fazer meu filho passar no vestibular”, diziam os pais nas reuniões com as escolas.. E assim, praticamente todo o ensino foi orientado para os alunos passarem no vestibular. Lá se foi toda a aprendizagem de conceitos, as discussões de idéias, tudo, enfim, virou decoração de fórmulas. Com a Internet, os trabalhos escolares e as fórmulas ficaram acessíveis a todos, e nunca mais ninguém precisou ir à escola para estudar a sério. Em seguida, os professores foram desmoralizados. Seus salários foram gradativamente sendo esquecidos e ninguém mais queria se dedicar à profissão. Quando alguém criticava a qualidade do ensino, sempre vinha algum tonto dizer que a culpa era do professor. As pessoas também se tornaram descrentes da educação, pois viam que as pessoas “bem sucedidas” eram políticos e empresários que os financiavam, modelos, jogadores de futebol, artistas de novelas da televisão, sindicalistas – enfim, pessoas sem nenhuma formação ou contribuição real para a sociedade. Ah, mas teve um fator chave nessa história toda. Teve uma época longa chamada ditadura, quando os milicos colocaram os professores na alça de mira e quase acabaram com eles, que foram perseguidos, aposentados, expulsos do país, em nome do combate aos subversivos e à instalação de uma república sindical no país. Eles fracassaram, porque a tal da república sindical se instalou, os tais subversivos tomaram o poder, implantaram uma tal de “educação libertadora” que ninguém nunca soube o que é, fizeram a aprovação automática dos alunos com apoio dos políticos... Foi o tiro de misericórdia nos professores. Não sei o que foi pior – os milicos ou os tais dos subversivos.
– Não conheço essa palavra. O que é um milico, vovô?
– Era, meu filho, era, não é. Também não existem mais...''

E é isso... Pelo menos é o que vejo... Feliz dia dos Professores...

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