O dia estava estranho. Num determinado momento fazia frio, mas ao mesmo tempo fazia calor, era realmente um dia muito estranho. Caminhava eu pela calçada pública, quando alcancei uma banca de jornais e revistas. Parei em frente àquele monte de papel pendurado nos arames enferrujados colocados ali pelo dono do lugar, e fiquei a observar o que toda aquela informação me dizia. Num primeiro momento encontrei uma revista sobre Umbanda. A capa trazia uma reportagem sobre os grandes mestres daquela religião e o modo de lidar com a morte. Curiosamente uma revista ao lado, voltado para o catolicismo, também trazia um artigo de capa sobre a morte. O conceito céu e inferno estavam ali representados de forma tão clara e tão bem desenhada. Logo abaixo uma revista direcionada a doutrina espírita colocava em destaque a vida após a morte, mais uma vez era a morte se mostrando na imprensa local. E por fim, aí por obra de Deus mesmo, não há como dizer que era outra coisa, um livro evangélico intitulado MORTE. Como tais coincidências poderiam ocorrer numa única tarde de frio e calor simultâneos? Problemas com a morte todos terão, até porque este é um assunto que acaba com a vida da gente; agora, viver intensamente pensando na morte, não é uma forma de matar a vida? O que vem depois sempre foi e sempre será um mistério. Dizia o velho Zuza,''nunca ninguém voltou para me contar o que tem lá, então deve ser bom''. Pensando desta forma, não pode ser ruim, agora basta perguntar para alguém se esta pessoa deseja conhecer o que tem lá, provavelmente responderá um não, a não ser que ela seja uma suicida, ou coisa parecida.
Mas o que me levou a ligar este computador e escrever tal coisa, não fora somente o caso das incríveis coisas iguais voltadas para um mesmo assunto, mas sim, o fato de saber que a verdade não existe de fato. Aprendi estudando história que a verdade não existe. Embora eu já tenha presenciado discussões absurdas sobre este assunto, sempre os dois lados terminam da mesma forma; ou pedem desculpas um para o outro, ou viram as costas e nunca mais se olham nos olhos, para o resto da vida. Tornam-se inimigos mortais de um minuto para outro. Embora eu sempre tenha pensado desta maneira sobre a verdade não existir, nunca tinha presenciado na prática o que isto realmente queria dizer. Sempre foram discussões vagas, sem argumentos concretos para chegarem as vias de fato, tanto por socos ou pontapés, como por ideias inteligentes. Perante as inverdades alheias, o que para minha pessoa é real, digo com segurança, dentro do meu parco conhecimento que não há uma única verdade, tendo em vista que elas são tantas, expostas em capas de revistas e livros por todas as bancas e livrarias do país. Pensei eu enquanto estava ali contemplando tais reportagens: ''Por que será que estas outras pessoas pensam desta forma?''. Ao mesmo tempo que raciocinei desta forma, imaginei uma outra pessoa, talvez do outro lado da rua, em outra banca, ou até mesmo do outro lado da cidade, dentro de uma livraria, ou até mesmo do outro lado do mundo, pensando sobre a mesma coisa e dizendo a mesma frase, mas desta vez direcionada para mim. ''Por que será que estas outras pessoas pensam desta forma?''. Ou seja, o que é verdade para mim, pode ser um grande absurdo pra ele, ou para ela, quem sabe. Assim como o que pode ser uma gigantesca verdade para você, pode parecer ridículo para mim. Enfim, a verdade, sobretudo neste caso tão delicado de lidar, chamado fé, crença e religião, é moldada de acordo com a verdade de cada um dentro do seu conforto mental. Não há como explicar de outra forma. Olhando as coisas desta maneira fica mais fácil entender por que tantos se matam no futebol, na religião e na política, é cada um querendo impor a sua verdade dentro da mentira do outro.