Escolas municipais do Rio terão programa de proteção contra tiroteios
Ao ler uma reportagem na Folha Online, do Rio de Janeiro, achei esta reportagem em destaque. Um texto muito bem escrito de Diana Brito, explicava a situação atual dos professores municipais do Rio de Janeiro, cuja situação atual levará estes profissionais a terem ''táticas de evacuação em área de guerrilha'' para continuarem trabalhando na função que escolheram para suas vidas, ensinar. A decisão foi tomada pela Secretaria Municipal de Educação do Rio, que chegou afirmar na quarta feira, dia 4 de novembro, estar estudando uma forma de implantar um plano emergencial destinado a treinar professores e funcionários de 1.064 escolas cariocas, contra situações de alta tensão, como tiroteios entre criminosos e policiais. Embora estejam planejando tal ''CURSO'', ainda não sabem quando ele será colocado em prática.
De acordo ainda com a própria secretaria municipal de educação, o objetivo do plano é levar mais segurança às escolas do município. Como? Não entendi esta colocação. Segundo a secretaria, o projeto conta com técnicas contra tiroteios, acidentes graves, incêndios e até mesmo balas perdidas. Tudo bem, mas... O que os professores tem a ver com isso? A secretaria explicou em uma nota dizendo:
"A ideia é preparar esses funcionários para terem uma atuação apaziguadora, deixando as crianças mais calmas e seguras em possíveis situações de pânico".
Parece piada, mas eu fiquei imaginando uma sala de aula, com alunos de quinta série, a professora demorando mais de trinta e dois minutos para conseguir a atenção deles, e quando finalmente consegue a atenção de todos, começa um tiroteio do lado de fora da sala de aula. Gente correndo, gritos, sirenes, o caos... Então, neste momento, com os alunos todos desesperados frente a docente, pois conhecem o valor da vida, tendo de ouvir da profissional:
_ Calma gente, isso não é nada de mais, é só um tiroteio. E não é de mentirinha.
Seria o mesmo que dizer: ele só teve um traumatismo craniano, só isso. Que coisa. Se a professora, ou o professor, for lecionar a disciplina de Ensino Religioso, ele ainda pode puxar uma oração ao som dos tiros de fuzis. Se for de matemática, pode elaborar uma equação do tipo: se os policiais disparam 400 tiros por minuto e os traficantes 600, em quantos minutos teremos uma vítima inocente no meio do conflito. Deve ser isso que este tal programa chama de ''técnica para enfrentar tiroteios''. Caso contrário, e plagiando Geraldo Vandré, eu não acredito no giz vencendo o canhão, para não dizer flor. Segundo dados da secretaria de educação do Rio de Janeiro atualmente há 200 escolas municipais localizadas em áreas de risco, em regiões localizadas dentro de comunidades. Cada vez mais a situação da educação no Rio de Janeiro se depara com estas demonstrações de violência urbana. Na terça feira, dia 3 de novembro, cerca de 13 mil alunos de escolas e creches públicas foram prejudicados por causa de uma série de confrontos entre criminosos de facções rivais e policiais militares na Vila Kennedy, zona oeste do Rio.
Cita ainda a notícia de Diana Brito, da Folha Online, que no último dia 20, dois homens armados invadiram o pátio da escola Professora Maria de Cerqueira e Silva, em Manguinhos, zona norte do Rio, durante uma tentativa de fuga, o relógio marcava 11h30 da manhã. De acordo com a Secretaria Municipal de Educação, os homens passaram pelo local, mas não permaneceram na escola nem invadiram nenhuma das dependências internas da unidade. Que bom, só passaram por ali, nada de mais. Menos mau.
No último dia 17, confrontos entre traficantes de favelas na zona norte do Rio resultaram na queda de um helicóptero da Polícia Militar e deram início a uma onda de violência que deixou pelo menos 42 pessoas mortas. No centro deste tumulto todo, está a disputa pelos pontos de venda de drogas entre traficantes do morro São João, que atualmente é controlado pelo Comando Vermelho, e aliados do morro dos Macacos, controlado pela ADA, cuja sigla significa Amigos dos Amigos.
Há alguns dias o governo do Rio de Janeiro deu um aumento de 5% para os policiais cariocas arriscarem suas vidas nos morros. Enquanto um político recebe centenas de benefícios e salários gigantescos em comparação com qualquer trabalhador da sociedade, temos de acreditar que os professores, treinados e estudados para apenas transmitirem o conhecimento, agora terão que se equiparar aos policiais treinados para este tipo de coisa, isso é o que podemos chamar de relação interdisciplinar. Por que quando nos deparamos com alunos armados na escola, dentro da sala de aula, que não são poucos não, não podemos levantar um dedo contra esta questão. Por um lado temos medo de denunciar, pois podemos sofrer atentados, por outro, caso chamamos a polícia, é capaz de sofrermos represálias por parte dos comandantes da própria escola, que passam a mão na cabeça de certos alunos que de inocentes não tem nada. Querem que a gente negocie com os traficantes da mesma forma que negociamos com um aluno portando um revólver calibre trinta e oito? Querem que deixamos a turma calma, diante de barulhos de tiros, lá fora, sendo que já nos deparamos com armas reais diante dos olhos destes mesmos alunos, dentro da sala? Se for isso, então não precisamos de treinamento, já estamos mais do que preparados a lidar com situações desta natureza. Pra que gastar dinheiro com este tipo de treinamento? Vou procurar a resposta...
De qualquer forma isso já um avanço, pois nem no Iraque, país com tradição em bombas, e que bombas hein; os professores não receberam este tipo de treinamento para atuarem nas escolas de lá. O que fazer então? Pois até agora só apresentei a iniciativa da secretaria de educação do Rio e não dei solução nenhuma para o caso. Primeiro, eu não sou dono de nenhuma verdade, e não tenho receita para todos os problemas do mundo, mas uma coisa posso falar, não é ministrando cursos com este tipo de treinamento para os professores que o problema vai melhorar. Não é dando 5% de aumento para os policiais herois que eles irão subir o morro com um sorriso extraordinário no rosto. O problema está no dinheiro que a droga proporciona. Tem muito dinheiro envolvido em tudo isso. Por que quando uma autoridade muito, mas muito, muito mesmo, importante vai ao Rio de Janeiro tudo parece maravilhoso? E o convidado ainda tem a alegria de declarar ao final de sua viagem: ''o Rio de Janeiro continua lindo''. Por que é montado um esquema de segurança sem igual referência em todo o mundo para proteger esta pessoa que lá está. Agora, o papa, um presidente, uma artista de cinema famosa, ou até mesmo um cantor famoso demais da conta, não se vê todos os dias pelos morros cariocas, são momentos especiais, por isso são protegidos ao extremo. Por outro lado, segundo a mentalidade de alguns, professores e policiais tem bastante. Isso para não falar na situação dos alunos que ali residem e correm riscos todos os dias. Se a secretaria de educação vai ministrar este curso, ótimo, todos os professores devem fazê-lo, com certeza. É mais um item para o currículo deste professor que ao entregar sua ficha num estabelecimento contratante poderá ouvir do funcionário do RH:
_ Professor Cecílio Dias, formado em Letras, pós graduado em Literatura, cursos de linguística, análise do discurso, literatura francesa, literatura portuguesa, literatura brasileira e técnicas de guerrilha, especializado em acalmar alunos durante tiroteios, fugir de balas perdidas e intermediar conversas coloquiais com sequestradores armados até os dentes.
Eu poderia embasar esta fala no nosso código civil e na constituição brasileira, onde o governo tem a responsabilidade de prover segurança, educação e saúde a todos os cidadãos, por isso pagamos tantos impostos; os professores e os policiais são apenas algumas peças deste sistema que sustenta milionários questionadores de recursos e mais recursos para copa do mundo e olimpíadas com estádios de futebol sem visão do campo todo. Para não derreter no calor da cidade escrevendo este texto, e não me segurar mais aqui, posso terminar plagiando Karl Marx, no livro ''Manifesto do Partido Comunista'', não que eu seja um comunista ou simpatizante do sistema, mas sim apenas um admirador desta frase que aqui substituo trabalhadores por professores: '' Professores do mundo, uni-vos''.