''Quando acertamos ninguém se lembra, quando erramos ninguém se esquece''

terça-feira, 17 de novembro de 2009

''Vale-Cultura'', PRIMEIRO DE JANEIRO NOS CINEMAS

Eu estava caminhando e cantando quando me deparei com esta notícia, veiculada pelo Bol; ''Senado aprova realização de audiência pública antes da votação do "Vale-Cultura"''. Ou seja, o governo está criando um vale,  no valor de 50 reais, para que cada ser humano do Brasil tenha acesso a cinema, teatro e apresentações artísticas. 50 reais para cada um? Eu entendi bem? Não, não é pra todo mundo não, é só pra quem trabalha com carteira assinada, quem já recebe os benefícios do governo, não vão receber mais este dinheirinho.

A CAE, Comissão de Assuntos Econômicos do Senado, já aprovou numa audiência pública o Vale-Cultura, que agora irá para votação. A oposição prometeu que vai dificultar ao máximo a aprovação deste benefício; o que  não é nada mau. Ao saber das verdadeiras intenções desta pressa toda para aprovar o mais rápido possível este tal Vale, compreendemos o que a oposição quer dizer. O líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), disse que o objetivo da base aliada é aprovar a concessão do benefício no plenário da Casa até o final de 2009. "Queremos votar matéria até o final do ano", afirmou. Aí você pergunta: por quê? Por qual motivo o governo enviou ao Congresso o projeto de lei que cria o Vale-Cultura em regime de urgência, estabelecendo a votação do texto em até 45 dias. A oposição vincula a pressa na análise da proposta ao lançamento do filme "Lula, o Filho do Brasil", que conta a história de parte da vida do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. É pouco, ou quer mais?

Em ano eleitoral, a oposição afirma que o governo vai usar a concessão do benefício do "Vale Cultura" para estimular a população a assistir ao filme de Lula em 2010, segundo cita a reportagem. O projeto cria uma espécie de tíquete de R$ 50 financiado pelo Executivo e por empresas privadas que poderá ser trocado por ingressos em casas de shows, teatro, cinema e em livrarias. Não seria melhor então liberar a roleta, e deixar o acesso livre para quem se interessar a este tipo de cultura? Entregar mais dinheiro para o povo, alegando que está fornecendo cultura, é aumentar os gastos da máquina pública, e tendo em vista que quem sustenta esta máquina toda, somos nós, é aumentar os nossos gastos; em outras palavras.

"A urgência é porque vai ser lançado o filme do Lula. O governo vai gastar de R$ 2 bilhões a R$ 3 bilhões para o povo assistir o filme do Lula. O projeto só atende o trabalhador com carteira assinada, que trabalhe em uma empresa, enquanto 90% dos que tem Bolsa Família [programa social do governo], e são os reais necessitados, estão fora desse benefício. As pessoas vão receber o dinheiro, mas como vão ter um comprovante de que vão usar na cultura? Até quem quiser comprar roupa de Carnaval vai poder", disse o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE).

O filme ''Lula, o Filho do Brasil'', já entrou para a história como o filme mais caro do cinema brasileiro. Com orçamento de aproximadamente R$ 12 milhões o filme será exibido em quase 400 salas espalhadas pelo Brasil. A estreia nacional do filme está prevista para o dia 1º de janeiro. O filme foi dirigido por Fábio Barreto, o mesmo diretor de ''O Quatrilho'', que concorreu ao Oscar nos anos 90. O filme é estrelado por Rui Ricardo Diaz, Glória Pires e Cléo Pires. Como um grande problema do nosso país é a falta de cinemas, os produtores do filme farão exibições especiais para comunidades pobres de grandes cidades, e para as pessoas que residem na zona rural. Pelo menos prometeram isso.

O filme conta a história de Lula desde seu nascimento, em 1945, no sertão de Pernambuco, até sua consagração como líder sindical, em 1980, no ABC paulista. Para que todos possam ver este filme, e talvez algo mais além do filme, os políticos se apressam para aprovar o Vale. Que coisa! Não quero ser acusado de levantar a bandeira anti-cultura, pelo contrário, se eu pudesse já teria levado cultura a todos os cantos deste país, eu disse CULTURA, não dar dinheiro a rodo utilizando a palavra cultura como a principal culpada desse aumento de gastos. Por que não investir estes 2 ou 3 bilhões na escola pública, que atualmente está sucateada? Por que não investir estes 2 ou 3 bilhões em bibliotecas públicas para as cidades que não tem uma única prateleira de livros destinados à população, lugares que não tem sequer uma creche ou um hospital? Por que não investir estes 2 ou 3 bilhões em escolas de teatro ou cinema? Por que nada disso é tão importante quanto um filme, um filme que ainda será lançado, e irá mudar a conta bancária de quem desejar ir vê-lo, ou não.

Segundo a matéria, o Vale-Cultura será concebido nos moldes de um benefício trabalhista, como, por exemplo, um vale alimentação. Com o cartão, os beneficiados poderão adquirir ingressos de cinema, teatro, museu, shows, além de livros, CDs e DVDs, entre outros, como roupas de carnaval, e talvez até, DVDs piratas... Com 50 reais vai ter gente fazendo a festa no camelô.

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