''A Gibicon não só apresenta quadrinistas renomados de todo o mundo, como
também prestigia os profissionais locais e ajuda a promover o mundo dos
quadrinhos no cenário nacional. Oferece oficinas, lançamentos,
minicursos, sessões de autógrafos, debates, palestras e muitas outras
atividades. Em 2012 estão programadas diversas atividades para festejar as 3 décadas
da Gibiteca de Curitiba – a primeira do país !!! O evento surgiu ano
passado como parte das festividades dos 30 anos da Gibiteca em 2012. Na
verdade foi um aquecimento para o aniversário deste ano, por isso mesmo
foi chamado de evento número zero.'' (guiacuca.com.br)
Foi com essa apresentação que me senti motivado a ir nesse evento, afinal, sou viciado em quadrinhos. Pelo menos eu pensei que era, até chegar lá e ver o que vi. E então, para lá fui. Era um sábado, perto das 16 horas. Desloquei-me de ônibus até o centro e caminhei até um dos locais do evento. Cheguei no Largo da Ordem as 17:10, os ônibus andam bem devagar no final de semana, ou sou eu que moro muito longe do centro da cidade, fica a dúvida no ar.
Logo que lá cheguei o lugar estava lotado. Na entrada, desse espaço específico que fui, colocaram um boneco do Homem Aranha em tamanho real. Muito legal a entrada... No fim, foi só a entrada mesmo. Muita gente andando e parando por todos os lados. Entrei. Logo de cara vi uma mesa com vários catálogos, peguei um, minha intenção era obter um roteiro, ou qualquer informação que me dissesse o que estava acontecendo naquele espaço. Quem ali estava? Quem ali se apresentava? Quem ali caminhava? Frustração. O panfleto que peguei era uma propaganda de um técnico de informática que faz visitas em domicílio para atender seu micro lesado. Continuei andando. A primeira imagem que tive foi: cinco estruturas, imitando bancas, vendendo gibis, um palco de pedra, com duas pessoas desenhando personagens da Marvel, e um palco de madeira, suportando um palhaço no seu topo. O som estava muito alto. O homem, vestido de palhaço, em cima do palco de madeira que ali foi montado, estava com um fone no ouvido. Olhava para quem entrava e saía e não dizia nada no microfone. Na primeira banca que parei, a vendedora gritava: ''promoção para acabar com tudo hoje''. Olhei para ela. Entusiasmada, ela disse à minha pessoa: ''aqui você só paga 30 e ainda ganha um boton''. Trinta o quê? Eu perguntei. Trinta reais por exemplar, respondeu a moça. Caminhei até ela e peguei um dos gibis na mão. A capa dura já anunciava a razão de um gibi de 20 páginas custar 30 reais. Agradeci e continuei andando.
Subi o palco de pedra e vi um homem, acomodado numa cadeira muito confortável, desenhando o Incrível Hulk. Enquanto ele desenhava, o desenho era projetado numa tela grande, para que todos pudessem ver, mas, curiosamente não tinha ninguém olhando. Eu sou muito fã do Incrível Hulk, por isso fui até lá. Aproximei-me do estranho desenhista talentoso e perguntei a ele: É você quem desenha para o gibi oficial? Uma pergunta de um leigo no assunto, e um tanto quanto infantilóide, confesso. Ele me olhou. Encarou-me por alguns segundos, baixou a cabeça e soltou um sorriso de deboche. Não me disse uma palavra, e continuou fazendo o que estava fazendo. Talvez tenha pensado: ''que pessoa ignorante que não me conhece, afinal, sou muito famoso e conhecido por todos''.
Saí dali e subi a grande escadaria do centro do prédio. Lá em cima, uma fila com umas 15 pessoas estava formada, na intenção de conseguir um autógrafo de um homem acomodado à mesa. Não conheci o homem que estava dando autógrafos, por isso pensei em olhar para os gibis que estavam nas mãos dos supostos fãs, em busca de uma assinatura. Em cima da mesa não havia sequer uma única identificação com o nome do homem. E nas mãos das pessoas vi um gibi diferente a cada piscar de olhos. A multiplicidade de autores não podia estar centrada na figura de uma única pessoa no universo, pensei que isso fosse impossível, por isso resolvi perguntar a um dos fãs daquele ilustre desconhecido para minha pessoa.
Aproximei-me de um homem e perguntei quem era o desenhista que estava dando autógrafos. Ele me olhou e respondeu: ''sabe que eu nem sei, vou descobrir quando chegar lá''. Foi a resposta. Legal, pensei. Andei para mais perto da mesa e perguntei a uma mulher que ali também esperava, quem era a pessoa que estava dando autógrafo. A mulher disse que não lembrava o nome dele, mas que ele era bom. Ainda insisti em saber qual desenho ele fazia e se correspondia ao autor do gibi que ela segurava nas mãos. Ela me disse que não, não tinha nada a ver, que só tinha comprado aquele gibi por que era um dos mais baratos, e assim poderia ter um papel a mão, para o homem estranho sem nome assinar. Quanto ao desenho que ele faz, ela não fazia nem ideia de quem seria.
Desci as escadas procurando alguém da coordenação, ou um fiscal, segurança, qualquer um que pudesse me ajudar a saber o que estava acontecendo ali naquela tarde. Na parte de baixo, no pé da escada, duas moças vestindo roupas de vampira, se bem que uma estava mais para Batgirl; posavam à frente de uma das bancas. Atrás delas a vendedora anunciava gibis dessas personagens. Para os marmanjos de plantão tirarem foto com a câmera do celular, as mulheres eram um prato cheio. Então fui procurar alguma coisa para comer, não encontrei nada que estivessem vendendo. De longe avistei um guarda, caminhei até ele. Enquanto eu andava lentamente até o homem fardado, o rapaz vestido de palhaço, em cima do palco de madeira, pegou o microfone e começou a falar um monte de frases que eu não consegui entender nenhuma. O som ainda muito alto não foi abaixado por ele. Ele falava e falava e a música em inglês ressoava no fundo do áudio do microfone. Depois de falar por algum tempo, ele deixou o microfone em cima de uma caixa de som, pulou do palco enquanto a microfonia arrombava nossos ouvidos, e passou por mim correndo, indo na direção do banheiro. Frustração, nada de respostas, nada de informações. Sinceramente, senti-me um ignorante por não saber o que estava acontecendo ali e por não conhecer esses super hiper mega famosos desenhistas de quadrinhos que tanto leio. Na saída, uma banca vendia gibis antigos, numa espécie de vitrine sebo. De longe vi dois gibis antigos da turma da mônica, ainda com traços bem iniciantes de Maurício. Pensei, ufa, até que enfim alguma coisa que eu conheço. Aproximei-me e perguntei o preço. Setenta reais; disse o homem barbudo. Como saldo final me senti muito ignorante no mundo das Histórias em Quadrinhos, e vi que não chego nem perto de um verdadeiro fã dessa coisa de desenhar na sequência. Afinal, foi pra isso que fui até lá, esperando conhecer alguma coisa nova. E conheci, de tão novo, eu não sabia nem onde estava. Deixei o lugar e fui pra casa ler um gibi. No final das contas, isso ainda vai me custar mais uma passagem de ônibus.
Fonte do texto inicial e das imagens: http://www.guiacuca.com.br/evento/gibicon-convencao-internacional-de-quadrinhos-de-curitiba-2012 / Foto das vampiras: http://interney.net/blogs/melhoresdomundo/2012/10/30/a-gente-fomos-na-gibicon1-2012/ com créditos para Gibcon2012
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