''Quando acertamos ninguém se lembra, quando erramos ninguém se esquece''

domingo, 24 de outubro de 2010

25 de outubro - DIA DO DENTISTA

Na tentativa de homenagear estes profissionais pensei em inúmeros malabarismos. Pensei em extrair um dente, tirar a foto e postar aqui, mas desisti, não iria ficar bem para minha boca fazendo isso comigo. Na ideia de fazer acreditar que o mundo dos dentistas é perfeito, onde as coisas somente ficam complicadas quando aquele motorzinho entra em ação, fazendo qualquer um sonhar com aquele barulho; escrevi alguns versos em forma de um pseudo poema, no intuito de preservar a honra desta espécie.

Por pior que possa parecer,
não há como me esquivar,
no dentista deverei comparecer,
para meu dente tratar,

E quando na cadeira eu me acomodar,
não adianta comigo conversar,
com tantos instrumentos na minha boca,
não poderei ao menos lhe falar,

Motorzinho quando ligas,
doi no fundo do coração,
Sua ajudante quando entra,
vê eu babar na sua mão...

Enfim, acredito que seja isso, pois nunca consegui fazer que fosse diferente.

21 de outubro - DIA DO LIXEIRO

Sem dúvida alguma é uma profissão nobre. Àqueles que menosprezam tais trabalhadores, experimente trabalhar por uma hora neste ofício. Experimente imaginar uma greve, de três dias que seja, para não polemizar muito, desta classe, na cidade onde você mora. Imagine recolher toda a podridão que o ser humano produz, dia a dia. Imagine limpar a cidade e ser tratado como aquilo que recolhem. Imagine acreditar que alguém é melhor que eles. Ninguém é nada mais que alguém, somente isso.
Parabéns àqueles que tentam limpar a sujeira, e a falta de educação, oferecida pela grande maioria da população.

domingo, 17 de outubro de 2010

15 de Outubro - DIA DO PROFESSOR

No princípio nada era levado tão a sério, brincavam, conversavam, dançavam na sala, atiravam bolinhas de papel, quebravam as carteiras, arrebentavam com as cortinas, quebravam os vidros, batiam nas alunas mais indefesas e pouco a pouco conseguiram quebrar todas as lâmpadas do colégio. Algumas medidas foram tomadas, alguns alunos foram punidos, alguns pais foram chamados e até a polícia compareceu na escola. Passados dois dias do ‘’evento’’ tudo voltou a acontecer, e parecia que nada iria se resolver. Professores eram agredidos quando ‘’inventavam’’ de dar aula. Funcionários eram ameaçados e nada acontecia, porque os pais dos alunos mandavam na escola. E tudo continuou assim por um longo tempo, muito tempo, muito tempo mesmo.

Este é o meu relato, baseado no que vi e vivi na primeira escola que trabalhei. No ano seguinte, saí de lá e fui para outro colégio.

Neste outro ambiente, tudo novo e limpinho, pois a escola havia recentemente sido construída, o mundo parecia outro. Os alunos chegavam, entravam nas salas de aula, e assistiam às aulas com interesse. Liam o que os professores pediam para ler e faziam todos os exercícios propostos. O mundo era realmente lindo. Tudo isso durou até o dia em que um Juiz determinou que os menores infratores da região deveriam estudar ali, foi então, que o pesadelo começou novamente.

Todos os dias tinham cinco brigas no colégio, gangues entravam pelo muro dos fundos, drogas eram vendidas nos banheiros, os pais mais desesperados corriam tirar seus filhos de lá e matriculavam em escolas muito longe daquele lugar, muito longe mesmo. O tempo passou, nenhum professor ou funcionário morreu, mas muitos foram agredidos, carros foram depredados no estacionamento e o mundo agora novamente parecia outro inferno, o inferno na terra.

O pior não era sofrer tudo isso dentro de uma escola, e no fim do bimestre receber alguns pais, armados com garfo e faca, prontos para te devorar o fígado, o pior, era entrar no ônibus para ir embora e ouvir as mesmas senhoras usando brinco de prata te encarar e dizer: ‘’coitado, ele é professor’’.

Professor neste país virou sinônimo de coitado. Quando ele é massacrado em sala, ele é um coitado. Quando ele faz greve pedindo maiores salários, ele é vagabundo. Quando o filho daquele pai mal humorado passa de ano, o professor aprovou ele para se livrar do problema. Quando o filho daquele pai mal humorado reprova de ano, o professor não presta. Quando ele entra na sala e a turma fica em silêncio, ele é carrasco. Quando ele entra na sala e a turma quebra tudo, ele não tem domínio. Quando o aluno aprende algo, é por que ele repetiu a mesma coisa o ano inteiro. Quando o aluno não aprende nada, ele não tem metodologia. Quando o professor não desenvolve nenhum projeto na escola, ele é acomodado. Quando ele desenvolve algum projeto, está querendo aparecer. Quando ele tira os alunos da sala para realizar uma aula diferente, ele ta enrolando. Quando ele fica só na sala, e não sai pra nada deste mundo, ele é muito tradicional. Quando ele dá meio ponto para o aluno ser aprovado, ele menosprezou o seu trabalho, ‘’onde já se viu, o aluno tem de estudar, e não ganhar nota de graça’’. Quando ele tenta reprovar o aluno por meio ponto, ele não vale nada, é um lixo, ‘’o que que tem dar meio ponto para o aluno passar de ano? Não custa nada’’.

Esperei um bom tempo e pedi novamente transferência para outro colégio. O atual, onde trabalho hoje. Em meio a este primeiro ano de trabalho no novo ambiente, tudo transcorre normalmente. Não as mil maravilhas, mas de uma forma normal.

Normal na atual situação é considerar pai e mãe indo até a escola, por que você pediu para o filho dele ler um livro e ele não achou o livro. Se por acaso eu tivesse sugerido a leitura da Bíblia do Rei Jorge, em Latim, isto faria sentido, mas o pedido fora: ‘’leiam qualquer livro da literatura brasileira, cujos volumes estão em nossa biblioteca’’, enfim.

E por que não desisto de tudo isso e faço outra coisa na vida? Por que eu gosto de ensinar. Gosto de ver uma criança, um jovem, ou um adulto, que entra na Educação de Jovens e Adultos, crescer intelectualmente. Aprender a interpretar textos. Aprender a contar os números. Aprender quem são eles mesmos, e de onde vieram. Gosto de transmitir o pouco que li e aprendi até hoje e gosto de vê-los melhorar dia a dia. E nesta profissão que escolhi, a recíproca não é nem um pouco verdadeira; pelo menos não nas escolas que trabalhei e trabalho.

No dia dos professores não esperei homenagem, abraços, ou mesmo um parabéns dos meus alunos, isso não existe no mundo que eu trabalho. Recebi apenas os cumprimentos de dois grandes amigos, fora da escola, longe de lá, bem longe, num lugar onde eu nem me lembrava que sou professor. Na escola recebi outro tipo de homenagem. Logo que entrei na sala de aula, na primeira aula da manhâ, no dia 15 de outubro de 2010, dia do professor; peguei o giz e comecei a explicar o assunto que estamos estudando. Ao observar que um dos alunos estava com um fone no ouvido, pedi com educação para que ele retirasse aquele objeto da orelha.

_ Por favor, retire o fone e guarde._ solicitei.

O aluno me olhou e disse:

_ Vai tomar no seu cu.

Enfim, parabéns para todos nós professores que temos de agüentar isso em sala, e por pior ainda, agüentar o setor pedagógico dizer que ‘’ele não fez por mal... Ele não queria dizer aquilo’’... Mas disse, em alto e bom tom.

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

ACABOU - Fim do horário da comédia gratuita











O primeiro turno das eleições para presidente passou, agora, enquanto os dois candidatos correm em busca de votos e mais votos, podemos rir com a ainda viva lembrança das campanhas para deputado federal e estadual. Pelo menos até janeiro podemos rir, depois não sei mais. Candidatos que se desdobraram de norte a sul do país em busca do voto do eleitor amigo. Candidatos que não mediram a força do ridículo e muito menos calcularam o exótico, e por que não falar esdrúxulo, poder da imagem que pretendiam transmitir aos eleitores brasileiros. Eu confesso que ri muito. Ri como nunca. A cada horário eleitoral gratuito eu estava lá, diante da televisão, pronto para me divertir. Gente nervosa tentando enganar o eleitor, gente calma se fazendo de nervosa para conseguir a piedade do próximo, enfim, coisas bizarras e extraterrenas apresentadas no horário nobre da TV.
As fotos que aqui se apresentam foram colhidas em vários endereços eletrônicos, numa varredura que fiz na internet em busca de candidatos que provocaram estranheza num primeiro momento, e o afastamento ou aproximação num segundo momento. Diante de tal quadro, não há como acreditar que o bordão de Tiririca estivesse correto: ''pior do que tá não fica''. Não posso acreditar nisso, pois, ''nada está tão ruim que não possa piorar'', dizia o meu mestre conselheiro durante o meu exílio em 1997.
Por fim, resta-nos acreditar que o novo corpo de políticos que a partir de janeiro irá transitar pelas ruas da capital federal, não nos faça chorar...

M1 o filme

O filme apresentado aqui é um curta metragem, produzido em curitiba, e serviu como apresentação do trabalho final da pós graduação em cinema da FAP, no ano de 2004. O roteiro é de Priscilla Miquilussi, a direção é de Jadão da Silva, e eu, atuei como o advogado (Beto) da mulher acusada de assassinato. Filmado em locações emprestadas, a produção ficara excelente pelo custo que fora destinado a ela. A trilha sonora original, produzida especialmente para o filme dá o toque final. No início das filmagens o diretor queria que eu raspasse minha cabeça na máquina zero, para transmitir um ar de psicopata, por fim, meu rosto original, sem mudança alguma, supriu esta ideia.

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

ELITE da TROPA 2


''A culpa é do sistema'', disse o coronel Nascimento, mas quem colocou o sistema lá no poder? O inimigo agora é outro. O inimigo agora é muito mais forte do que se imaginava. O inimigo agora não vem com drogas nas mãos, vem com algo muito além disso.
Quando saí de casa para assistir ao filme TROPA DE ELITE 2 evitei ler os comentários que enchem a mídia brasileira neste momento. Evitei ver imagens do filme, como o trailer repetidas vezes, embora tenha visto duas vezes, ele não me contara muita coisa do que vi na tela. A produção está cada vez melhor. A fotografia dispensa comentários. As atuações são excepcionais. A direção nem se fala. Comandar as cenas do BOPE entrando na favela deve ter sido um momento único para todos que estavam envolvidos na equipe. E o que eu não faria para ser um simples mosquito voando no set naquele momento.
Coronel Nascimento comanda a entrada do BOPE no presídio de BANGU I. A operação não sai conforme ele planejou, e ele paga o preço por isso. Como punição deve atuar de terno e gravata em boa parte do filme. Que coisa. Mesmo não vendo ele rastejar pelo esgoto em busca de traficantes que cuidavam de um ponto de drogas, o filme não perde o brilho. É genial a cada cena apresentada na tela.
O roteiro de José Padilha, Rodrigo Pimentel e Bráulio Mantovani nos leva a pensar em cada fala narrada por Wagner Moura. Cada palavra parece estar sendo dita para cada um de nós. Disse a voz mais exaltada do cinema: ''se este filme tivesse passado antes da eleição, iria mudar muita coisa nas urnas''. Talvez não, ou talvez sim. Quem sabe? Ninguém. Talvez seja por isso que o lançamento do filme tenha sido colocado para depois da eleição de primeiro turno, ou será ''uma incrível coincidência com a realidade que nos cerca'', como diz a legenda no início da película.
A política está presente na trama. Os policiais estão envolvidos com tudo que acontece ao redor desta mesma política, e por fim, é esta mesma política que envolve os policiais na sua própria política. Uma rede de interesses, corrupção, crimes e queimas de arquivos.
Se é preciso existir o mal para que o bem saiba sobreviver em meio a ele, então o filme cumpre com esta missão, a missão de nos fazer pensar. E pensamos muito. Logo que o filme acabou, fiquei estático na poltrona, não conseguindo me levantar. Fiquei ali, pensando e raciocinando em cima das últimas palavras do coronel Nascimento. Os créditos surgiram na tela e eu continuei por ali. As imagens pararam de passar na tela, o projetor foi desligado, e eu continuava ali. Saí da sala pensando no que vi e ouvi, confesso que há muito tempo um filme não me levava a pensar desta forma. Por alguns instantes pensei ser a pessoa mais influenciável do planeta, pois em pouco mais de duas horas remoí conceitos e revi meus preconceitos e escolhas feitas ao longo dos tempos. Em casa, cinco horas depois, eu chegava a um questionamento plausível para tanta reflexão. Não fora o filme que me influenciara de tal forma a passar horas e horas pensando nas palavras de um personagem de ficção, mas sim minhas escolhas erradas ocorridos num passado não muito distante, que me levara a perder tantas horas no dia de hoje refletindo sobre o que tanto errei. E se pensei desta maneira, foi por causa do filme. Ele deu o empurrão que faltava para eu me sentir sozinho, um ser subdesenvolvido pensante, inserido num grande caldeirão de seres não pensantes. Muito bom, excelente, o melhor filme que vi neste ano... Excepcional.

O CONE - capítulo 5

Enquanto dormia, o homem conseguiu ouvir lá no fundo de seus tímpanos um leve som, que vinha do mundo exterior. Despertando do sono que lhe tomava conta da alma, Bruno levantou lentamente. Colocou suas pantufas do pateta e caminhou até a porta de entrada de sua casa. A campainha estava sendo pressionada por um conhecido. Ao vê-lo, Bruno abriu a porta.

_ Bom dia._ disse com cordialidade.

_ Por que bom dia, você conhece este menino?_ gritou o vizinho enfurecido.

Bruno olhou para o rapaz e o reconheceu como o ladrão do dia anterior.

_ Sim, é o ladrão. Onde o encontrou?

_ Ladrão é sua avó, ele é meu filho, seu animal._ berrou o homem.

_ Seu filho virou ladrão agora. Que decadência. Por que não foi trabalhar na empresa do avô?_ Bruno tentou argumentar.

_ Você não vale nada. Eu vou processar você por ter agredido meu filho, seu bandido._ apontava o vizinho para o rosto de Bruno.

_ Ele entrou na minha casa. É propriedade privada. Eu não tenho nada a temer. Pode processar, mas vai perder o processo.

Diante de tal impasse, devido à firmeza que Bruno respondeu a acusação, o pai indagou o filho:

_ Você invadiu a casa dele?

_ A gente estava jogando bola na rua, time de camisa contra os sem camisa, a bola caiu no quintal dele, eu pulei pra pegar. Quando estava com a bola na mão, ele me jogou um martelo na panturrilha.

_ Era um martelo de carne, que fique bem entendido._ disse Bruno.

_ Isto não vai ficar assim, você vai pra cadeia seu animal._ repetiu o homem.

_ Ele invadiu minha casa, não posso fazer nada. O que posso fazer é lhe processar duas vezes, uma por invasão de domicílio e outra por usar palavras de baixo calão contra a minha pessoa._ respondeu Bruno.

Pai e filho foram embora, Bruno fechou a porta de sua casa e voltou para a cama. Acomodou-se em sua cama, ajeitou a coberta sobre seu corpo e quando estava quase pegando no sono, ouviu novamente um leve barulho no fundo de sua mais longínqua audição. Levantou com lentidão e caminhou até a porta de entrada de sua casa. Enquanto andava lentamente, pensou:

‘’vizinho idiota, o filho dele se passa por ladrão e a culpa é minha? Se têm alguém que deve ser preso é ele, por invasão domiciliar. Quer chamar a polícia, chame a polícia então, vamos ver, vamos ver o que ele tem a me dizer neste momento’’. Ao abrir a porta deparou-se com dois policiais, fardados, em pé, na frente dele.

_ Pois não._ a voz até afinou ao pronunciar o cumprimento.

_ O senhor se chama Bruno?

_ Sim._ respondeu o homem esticando a mão lentamente na direção dos guardas, somente esperando as algemas serem colocadas.

_ O senhor ligou para o distrito pedindo uma viatura, devido a uma invasão de domicilio, é daqui mesmo, confere esta informação?

_ Confere, mas isto foi ontem.

_ O acúmulo de serviços dificultou um pouco o nosso trânsito e nos atrasou alguns minutos._ explicou o homem fardado.

_ 24 horas de atraso. Vocês chamam 24 de atraso de alguns minutos? Nada mal para a eficiência da polícia._ debochou Bruno.

_ Então parece que não tem ladrão nenhum. O senhor quer registrar um boletim de ocorrências a respeito do que fora roubado?

_ Não, não foi roubado nada. Eu tive de jogar um martelo no ladrão, por que vocês não estavam aqui. E hoje o pai do ladrão veio até aqui tomar satisfação por isso._ Bruno começou a se exaltar.

_ Você conhece o pai do ladrão?_ perguntou.

_ Conheço, ele é meu vizinho. O ladrão disse que estava jogando bola, mas o pai do ladrão disse que vai me processar por isso._ tentou explicar.

_ Espere aí um momento. O pai do ladrão estava jogando bola e quer te processar pelo filho dele ser um ladrão?

_ Não. Na verdade... Nada disso tem sentido. Bom trabalho pra vocês. Desculpe incomodá-los._ despediu-se dos homens fardados.

_ Tudo bem então, vamos embora. Só peço que não fique aplicando golpes falsos no distrito, isto pode acarretar problemas para o senhor.

_ Sim seu guarda, da próxima vez eu vou jogar o martelo na sua cabeça._ disse Bruno.

O policial interrompeu sua caminhada, olhou para ele e disse:

_ Eu posso prendê-lo por desacato a autoridade.

_ E eu posso te processar por omissão de socorro._ disse o homem.

_ Nós não omitimos nada._ gritou o homem fardado.

_ Omitiram. Eu tenho o número do protocolo da ligação. Liguei ontem, vocês vieram hoje. E se eu estivesse morto? Quem iria responder por isso? Ninguém! Sabe por quê? Porque não interessa pra vocês se morre um ou nenhum, é tudo a mesma coisa.

_ Vou prendê-lo por desacato._ o policial anda na direção dele.

_ Toque um dedo em mim, dentro da minha propriedade, sem um mandato judicial que eu faço você perder seu emprego.

O outro homem vestindo farda o encara, e pergunta:

_ Você é advogado?

_ Sou, sim senhor._ responde Bruno.

Os dois homens se olham e dizem:

_ Vamos embora daqui. Não vale a pena estressar com este tipo de gente.

_ Não vale a pena é brigar com alguém que conhece seus direitos e deveres dentro da lei. Isto é o que é. Podem ir, briguem com quem não conhece os próprios direitos, é mais fácil de controlar desta forma.

Os homens vão embora e Bruno volta a dormir.

O DOMÍNIO DA ESCADA

No final do ano de 2009, propus aos meus alunos que fizéssemos um exercício na sala de aula. O entusiasmo foi tão grande que o exercício saiu do quadro negro e ocupou duas linhas no caderno. A alegria do resultado levou aquelas duas linhas a se transformaram em cinco páginas de papel reciclado. Com o tempo as ideias saíram do papel e viraram uma representação de teatro. Ao ver o entusiasmo de todos, inspirei-me em um ponto remoto da ideia, pouco citado até aquele momento. Daquela ideia, conversando com os alunos, transformei todo aquele ânimo em filme. Todos abraçaram a ideia comigo. Na escola a grande maioria não entendeu o exercício, uma pequena minoria criticou, e alguns poucos, bem poucos, falaram muito mal do meu espírito.
Este vídeo, postado no youtube pelo aluno Eduardo, e já visto por mais de 300 pessoas, vem agora compor o acervo deste blog, como mais um dos meus trabalhos realizados. Idealizei e registrei em 2005 o projeto cinema na escola, cuja marca de apresentação se chama CAVALO BAIO produções cinematográficas. A partir de então trabalho imagens com todos os alunos que aceitam a proposta. No roteiro os alunos da oitava série A dominam a escada do colégio. Em nenhum momento, durante o tempo que estudaram naquela escola, outra turma teve acesso à escada, sem autorização destes alunos. No vídeo, estes alunos são intimados a saírem da escada que sempre dominaram. Eles não aceitam o pedido e partem para a agressão. No fim, a escada continua em suas mãos. Símbolo do poder no colégio onde habitavam, a escada sempre fora disputada pelos alunos, simplesmente pela falta de opção de parada, nos intervalos das aulas dentro da escola.

terça-feira, 12 de outubro de 2010

12 de OUTUBRO - dia nacional da LEITURA

A partir do ano de 2009, institui-se no Brasil, através da Lei nº 11.899, o dia 12 de outubro como sendo o dia Nacional da Leitura. Sendo o foco para este dia voltado para outro tipo de comemoração, de cunho mais popular, religioso e comercial, como é o caso do dia da Criança e da Padroeira do Brasil, isto para o nosso país; enquanto outros povos o comemoram como um dia histórico, comemorado pelas ''pessoas do norte'' como o dia de Colombo, fazendo referência direta aos norte americanos dos Estados Unidos da América.
A leitura nos dias atuais pode ser considerada a fonte mais barata para aquisição do conhecimento. Os inúmeros lugares de venda, empréstimo e até mesmo doação de livros, espalhados pelo mundo, por vezes permanecem vazios, salvo quando um evento com as devidas proporções é organizado. Ou seja, dentro da realidade que vivemos hoje, onde se discute se um candidato eleito deputado federal sabe ler e escrever, a pessoa somente não lê e escreve por decisão dela mesma. As oportunidades para resolver este problema são inúmeras. O acesso aos livros, antes, tão caros e restritos, agora, praticamente surgem nas mãos daqueles que somente ouviam falar de sua existência. E mesmo assim ainda temos uma quantidade imensa de pessoas que não lêem e muito conseguem escrever o nome. Talvez por uma sucessão de problemas de má sorte que realmente tenham ocultado a chance deste ou daquele ser vivente de alcançar este bem tão valioso; ou, por outro lado, por culpa da postura apresentada quando a oportunidade surgira.
Para ler, basta começar. Não há desculpa possível de privar a vontade de ler diante de qualquer pedaço de papel que seja, contendo frases e letras soltas em suas linhas ou não linhas, digo isso, para quem sabe ler; ''encara'' um livro, e não o lê. Comprar um livro já é um começo grandioso. É um bem adquirido. Ler aquele livro será a consagração daquele tesouro. Emprestar um livro é praticamente forçar a leitura, pois o prazo para devolvê-lo exigirá por pior que seja uma passada de olhos pelo menos sobre seu título. Quem gosta de ler, lê qualquer coisa que lhe caia nas mãos. Um pedaço de livro, a metade de um gibi, uma página de um caderno de receitas, uma bula de remédio. Quem não gosta de ler, pede para a mãe ir até a escola ofender ao professor que pediu para os alunos lerem um livro como leitura complementar à matéria que estava sendo ministrada. Esta colocação pode parecer absurda, mas basta eu indicar um livro para meus alunos lerem, que no dia seguinte no mínimo três mães estarão por lá bufando e querendo gritar comigo. Isso já aconteceu quatro vezes, e mesmo assim, não parei de indicar livros para leitura. Quem não gosta de ler inventa desculpas para não ler. Quem não gosta de ler sempre vê tudo muito difícil, muito distante, muito longe da realidade que vive. Quem não gosta de ler tem dificuldades para raciocinar. Quem não gosta de ler tem dificuldades para pensar. Quem não lê nada, não consegue escrever cinco linhas que seja, sobre qualquer assunto, num papel em branco. Quem não gosta de ler não tem direito de comemorar qualquer coisa no dia nacional da leitura, quem não gosta de ler deveria começar lendo Mário Quintana.
Nascido em Alegrete, no Rio Grande do Sul, em 30 de julho de 1906, Mário Quintana foi o quarto filho de Celso de Oliveira Quintana, farmacêutico da cidade, e de D. Virgínia de Miranda Quintana. Aprendeu a ler com seus pais, aos 7 anos de idade. Em 1915, ainda em Alegrete, freqüentou a escola do mestre português Antônio Cabral Beirão, e ali terminou o curso primário. Nessa época trabalhou na farmácia da família. Foi matriculado no Colégio Militar de Porto Alegre, em regime de internato, no ano de 1919. Em 1924 deixou o colégio militar por motivos de saúde e foi trabalhar numa livraria. Pouco a pouco foi vendo seus trabalhos serem publicados. Depois da revolução de 1930 traduziu várias obras de língua francesa para a língua portuguesa, trabalhou com Érico Veríssimo e foi admirado por Monteiro Lobato, que publicou alguns dos seus trabalhos. Sem sair de Porto Alegre, Quintana fez muitos amigos entre os grandes intelectuais da época. Seus trabalhos eram elogiados por Carlos Drummond de Andrade, Vinícius de Morais, Cecília Meireles e João Cabral de Melo Neto, além de Manuel Bandeira. O fato de não ter ocupado uma vaga na Academia Brasileira de Letras só fez aguçar seu conhecido humor e sarcasmo. Logo que perdeu a terceira indicação para a academia, compôs o conhecido

Poeminho do Contra

Todos esses que aí estão
Atravancando meu caminho,
Eles passarão...
Eu passarinho!

(Prosa e Verso, 1978 - do site releituras.com)


Faleceu em Porto Alegre, no dia 5 de maio de 1994, próximo aos seus 87 anos. O poeta e escritor Mário Quintana publicou vários livros, escreveu muito e leu muito, disse tantas quantas frases registrou no papel, entre elas: ''O pior analfabeto é aquele que sabe ler, mas não lê''. Falou e disse... Tudo. Salve grande mestre Quintana.

O PODER DO CONVENCIMENTO

No ano de 2005 fui convidado para atuar como ''terrorista'' numa produção independente de Luigi B. Locatelli. O diretor e roteirista do filme, naquele momento um colega de faculdade, pretendia representar um ataque terrorista na cidade de Curitiba. Na trama, o Exército fora chamado para evacuar as ruas e caçar o suspeito, que pela cidade corria segurando uma bomba nas mãos. O trailer fora montado pelo diretor do filme, Luigi Locatelli, e depois de tanto tempo sendo assistido pela internet, resgatei estas raríssimas imagens na intenção de adicioná-la ao acervo deste blog.

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

NEGOCIANDO COM A MORTE

Este vídeo, resgatado dos arquivos do grupo de cinema que fundei em 2004, o GCIND, fora rodado em Cambará, com meu grande amigo Antonio Marques no ano de 2005; ele vem a tona agora, por iniciativa do próprio Antonio Marques. O roteiro é do Antonio, a direção é minha, mas toda a criação que envolvera esta produção fora feita em conjunto. Durante um dia corremos pelas locações de carro, utilizando o fusca emprestado do meu avô, e a pé, na tentativa de fazer acontecer esta humilde produção. Com quase nada de dinheiro, realizamos o que queríamos ver na tela. Um homem, com boa saúde, negocia sua existência neste mundo com a própria morte. Talvez um engano, talvez realmente estivesse na hora dele morrer, não sei, cabe a cada um tirar suas conclusões.
O filme fora rodado em Vhs, editado muito tempo depois, e tem a presença de Antonio Marques no papel do homem que sai para trabalhar e se depara com a morte. A voz da morte coube a minha pessoa fazer. Uma câmera na mão, a fotografia do próprio São Pedro, que jogou sombras e sol onde não tínhamos a intenção de colocar, e 12 reais no bolso para comprar gasolina, a fita da câmera e a alimentação para um dia inteiro de filmagem.

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

O INDECISO

O indeciso é aquele que não decide, aquele que fica pensando, que fica olhando, que fica talvez raciocinando, enquanto tudo acontece. O indeciso é aquele que olha, olha, olha, mas não vê nada. O indeciso é aquele que admira, pensa em alguma coisa que nunca sabemos o que é, e não toma decisão alguma. O indeciso é aquele que não fica nervoso com qualquer coisa, ele só fica nervoso quando alguém olha pra ele e grita: ''faça alguma coisa!!!'' O indeciso vive com suas dúvidas, pode até pensar em saná-las, mas se alguém não decidir por ele, não o faz. Para este, ou aquele, indeciso, tenho algo a dizer... Ignore as pesquisas eleitorais, não deixe ninguém decidir por você qualquer coisa que esteja relacionada aos próximos quatro anos deste país, politicamente falando, e por favor, fique longe de uma urna eletrônica no domingo três de outubro.

QUEM não tem ''Santinho'' caça com PLACA

Quando a corrida eleitoral começou anunciaram que estava proibido produzir os chamados santinhos de candidatos e entregar na boca do lobo. Por fim, placas e mais placas, e até santinhos, foram produzidos e entregues, sem qualquer tipo de proibição. Eu recebi vários em minhas idas e vindas ao trabalho. Adesivos colados no seu carro sem que você se manifestasse a favor daquilo, também foram colocados carinhosamente por algum eleitor oculto. Papel e mais papel jogado no quintal das casas. Colocados cuidadosamente no portão de entrada de qualquer residência, que no meio do caminho de qualquer panfletário estivesse. E placas!!! Nossa, quantas placas. Placas e mais placas que com o vento soprando de um lado para outro, insistiam em não ficar nas calçadas, onde foram colocadas pelos colocadores de placas. Voavam, caíam no meio do asfalto, na frente dos carros, atrás das bicicletas, enfim, placas, quantas placas. Fiquei feliz pelas pessoas que ganharam dinheiro mexendo uma bandeira de um lado para o outro no sinal de trânsito, pelo menos ganharam seu dinheiro honestamente. Sem muito esforço, por um período de horas não compatível com os chamados ''escravos braçais'', ou seja, um típico trabalho político.
Quanto a sujeira que se espalhou pela cidade, não há por que se preocupar, a maioria da esculhambação já fora limpa quase que totalmente, era só pra mostrar o rosto do candidato em questão. E como estamos há dois dias da eleição, este ''quase que totalmente'' pode durar por muito tempo ainda, vagando, voando e pulando sobre nossos pés e joelhos, até entupirem uma boca de lobo qualquer. E ontem, quando a televisão, após o último debate eleitoral anunciou no jornal da madrugada que estava proibido fazer propaganda a partir de hoje, uma menina me entregou dois santinhos logo que saí de casa para trabalhar, as sete horas da manhã, e outra senhora me entregou mais dois logo que cheguei no trabalho. Sem problema algum. Parece que tudo sempre estivera liberado mesmo, foi a televisão que errou.
Os mais importantes órgãos de imprensa estão dizendo que o debate de ontem a noite foi morno, e se eles estão dizendo, por que esquentar mais ainda o que já está quase frio? Por fim, e para encerrar este debate de um homem só, peço encarecidamente a todos aqueles que ainda tem algum tipo de poder neste país; pelo amor de Deus, nas próximas eleições não façam pesquisas eleitorais, isso acaba com a adrenalina da competição.
Sem mais a dizer, vou limpar o quintal, duas novas placas foram colocadas por lá... Envolta dos inúmeros ''santinhos'' que lá repousam.