Sabe àquela história do ''matou a mãe e foi ao cinema''? Ou seja, é como se o crítico de cinema acabasse de perder a mãe e fosse ao cinema assistir a um filme que fala justamente de uma pessoa que perde sua genitora, mas nesse caso a mãe tinha um toque de crueldade no ar; foi mais ou menos isso que aconteceu comigo. Eu tive um dia estranho no trabalho e quando cheguei em casa fui assistir ao filme ''Professora sem Classe''. Pelo amor das menininhas sujas de sapatilha, nunca senti tanta vontade de falar coisas e mais coisas para um roteirista de cinema, mas nesse filme eu senti essa vontade toda. É a típica história do ser humano que faz tudo errado, não está nem aí para o outro, rouba, trapaceia, é canalha e invejoso, e vive a prejudicar o próximo; mas, no final das contas ele se dá bem e tudo se ajeita na vida dele. Isso não é certo; pensaria o cidadão honesto. Foi a melhor coisa a fazer; diria o canalha. Boa, a vida é assim, dizia uma outra cretina que socializa das armações e falcatruas de Cameron Diaz no filme PROFESSORA sem CLASSE - título em língua portuguesa.
As minhas previsões muito pessoais para esse filme não eram boas. Desde que vi o trailer no cinema, alguma coisa me dizia que eu não deveria perder uma tarde de sábado para ver tais pernas usando shortinho enquanto lavava carros, para pouco tempo depois disso, roubar parte do dinheiro que deveria ser destinado aos alunos do colégio onde ela trabalha. Era uma premonição assustadora, mas o além estava certo mais uma vez, o filme é muito ruim.
Ao enquadrar um filme no gênero comédia a história deveria no mínimo ter piadas, várias delas, pois, é pra isso que servem as comédias, mas nem isso acontece. A única risada que esbocei em toda a fita foi quando a professora concorrente de Camerom entra no banheiro masculino, para conversar com o diretor da escola, que naquele momento se encontrava literalmente sentado no trono, e logo depois um funcionário do mesmo colégio entra no mesmo banheiro e se depara com a mulher. A conversa entre o diretor trancado no reservado, com as calças arriadas, e a mulher sentada no urinol, com as pernas cruzadas não dura muito, e ela vai embora. A piada vem na sequência, quando o segundo homem que entrou no banheiro solta o que estava segurando em respeito, ou vergonha, da ''visita'' que ali estava. A história do filme gira em torno de uma suposta professora que se acomoda no emprego para conseguir o que quer, conseguir um homem rico que lhe pague todas as contas e muito mais que isso. Fazendo uso do corpo e da beleza facial que possui, uma Cameron Diaz sem sal aparece na tela fazendo as vezes de uma professora que falcatrua, rouba e trapaceia tudo e todos para conseguir o que quer, ficar rica. Quando descobre que o homem rico gosta de seios grandes, ela começa a juntar dinheiro para colocar silicone. A mesma piada se desenrola por mais de oito cenas no filme, transformando o foco de sua existência somente nisso, deixando de lado o gancho de que ela não gosta e nunca gostou de dar aula.
Drogada, consome maconha na sala de aula, enquanto os alunos assistem a qualquer filme retirado das prateleiras de uma locadora de vídeo; no carro, consome drogas, dando exemplo a vários alunos que passam pelas suas mãos e presenciam tais tapas no cachimbo. Embebeda o responsável pela aplicação de uma espécie de exame de aptidão no colégio onde trabalha, e rouba o gabarito da prova. Como consequência tira nota máxima e recebe os aplausos de todos, além de um cheque de 5 mil dólares. Como toda vigarista que se preza, tira fotos do homem bêbado, nu, em cima de uma máquina de xerox. Nem as fotos bizarras arrancam sorrisos de quem assiste ao filme. O grande mestre do humor, Chico Anysio sempre disse que existe dois tipos de humor; com graça e sem graça, esse sem dúvida faz parte do segundo tipo, o que por sinal os norte americanos adoram.
Casada por dinheiro no início do filme, a tal professora gasta 16 mil dólares por mês e não está nem aí para a escola onde trabalha, só quer conseguir o dinheiro e passar por cima de quem for preciso para alcançar seu objetivos. Passa boa parte do filme juntando dinheiro para colocar silicone e conseguir impressionar o homem rico, a quem ela está mais interessada. Consegue o dinheiro, roubando, trabalhando, pedindo; mas na hora H não faz nada. E todos aqueles telespectadores que ficaram esperando o filme todo para ver o desfecho da novela ''colocar silicone'', o que acontece com eles? Começam a pensar o que poderiam ter feito com o dinheiro que gastaram no ingresso de entrada do cinema.
Cameron Diaz se casa com um cara rico. Ela gasta muito dinheiro no cartão de crédito e por isso a sogra desconfia que ela não gosta do homem com quem divide a cama. Ela sofre um divórcio então precisa ir pra escola trabalhar e ganhar dinheiro, pois está sem emprego e nem um lugar descente para gastar seu dinheiro ''suado'' ela consegue. Divide apartamento com um cara estranho, com rosto de tarado. Na escola, quando menos espera começa a ser alvo de um professor de educação fisica, mas desiste ao saber que o rapaz é pobre e não lhe poderá bancar o cartão de crédito em todas as compras como deseja. Interessa-se pelo neto de um fabricante de relógios, muito rico. Mas vê cruzar no seu caminho uma outra professora que pouco a pouco vai descobrindo o quão perversa é Cameron Diaz atuando como docente. Depois de muitas idas e vindas, Cameron consegue o que quer. ''Transfere'' a professora de colégio, tendo a sua frente o caminho livre para subir até o topo da rede educacional daquela escola, ou seja, o posto de maior salário dentro daquele estabelecimento.
Por fim, o bandido se dá bem. Depois de acabar com metade do mundo onde reside, chega ao topo, como queria desde o início, e daí, ninguém mais pode saber onde tudo isso vai chegar. Nesse caso, o crime compensa bastante. Você faz o que quer, mas a impunidade rola solta dentro do ambiente escolar; em determinado momento, devido aos olhares internacionais estarem sendo voltados para as belezas naturais do nosso país, acreditei que o filme contava a história de um Brasil conhecido pela maioria da população, onde quem rouba consegue ascensão social e profissional, sobretudo se for na política.
Lição final desse filme: o crime compensa, compensa muito. Roubando você pode conseguir o que quer e nada lhe acontecerá no final das contas, pois sempre alguém vai levar a culpa no seu lugar.
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