''Quando acertamos ninguém se lembra, quando erramos ninguém se esquece''

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

ESCOLA: DEPÓSITO DE GENTE - Relatório final do ano letivo de 2011.

 A criança nasce, cresce, vira adulto e vai trabalhar. Entra numa empresa e comete um erro. O patrão tolera, pois ele é um bom funcionário que nunca chegou atrasado e trata bem os funcionários da limpeza. Eis então que ele comete o seu segundo erro. Dessa vez, o patrão não tolera.
_ Tchau, está na rua. Encontre outro lugar para você trabalhar.
Demissão. Sem dó. Foi dada uma chance, mas o que houve? A chance foi jogada fora, ou melhor, na rua. Esse ser humano caminha pela vida sem rumo até encontrar outra chance. Uma borracharia precisa de alguém para recolher os pneus que repousam na chuva de um dia para o outro. Ele entra no emprego e começa a fazer seu trabalho bem feito. Mas, como nem tudo é perfeito, ele tem o azar de acreditar na previsão do tempo. Dentro desse parâmetro de confiança que ele reordenou para ele mesmo, não recolhe tudo que deveria ser recolhido e vai embora para seu lar. Assim que abre a porta de entrada da sua casa começa chover. No dia seguinte quando chega para trabalhar ele é demitido.
_ Você só tem uma coisa pra fazer na vida, e não fez bem feito. Não tem tolerância. Está demitido._ disse o patrão.
Mais uma vez desempregado ele procura pela igreja. Nesse caso, um templo evangélico que fica próximo ao lugar onde ele mora. Sem dinheiro, não consegue manter a calma quando no final da noite, contando o dinheiro das ofertas, coloca cinco notas de dez reais no bolso. No dia seguinte o pastor sente falta do dinheiro e ele é mandado embora do trabalho que mal tinha começado fazer na igreja. Procura então uma igreja católica e começa a fazer, primeiramente um trabalho voluntário, varrendo o pátio da igreja todas as manhãs. Numa manhã sem chuva, acreditou que não iria ventar, não varreu, o padre o convidou a não ir mais. Não foi.
Sem emprego, sem chance de fazer pelo menos um trabalho voluntário, não tinha dinheiro para pagar o aluguel e nem para comer. Tentou negociar com o dono da casa onde morava, não teve conversa, foi despejado. Sem ter onde morar e sem ter o que comer, teve uma nova ideia, decidiu pedir esmola na rua. Num primeiro momento pensou na alternativa de viver no subemprego. Ficou em pé na frente do semáforo pedindo moedas a cada leva de veículo que por ali paravam. Não obteve sucesso. No primeiro dia pedindo dinheiro no sinal de trânsito, foi expulso do lugar por outro pedinte de moedas que já ''trabalhava'' ali naquele sinal há um ano. Foi para a praça central. Sentou no chão e colocou um lençol no solo quente. Foi expulso dali pela polícia militar, não poderia ficar naquele lugar, não era bem vindo, espantava os turistas, não era bom para a imagem da cidade. Dali saiu e vagou pelo mundo.
Depois de muito andar, parou em frente a uma vitrine de loja, onde alguns televisores ligados mostravam a programação local. Ali viu uma notícia que lhe trouxe novamente o sorriso nos lábios. Um lugar o aceitaria de bom grado. A escola.


 Foi para a escola e uma vez lá conseguiu comer, na hora da merenda, conseguiu leite, no programa de assistência voltado para o leite das crianças carentes. Matriculou-se ali, e por mais que pegasse dinheiro dos colegas, jogasse lixo no chão e não varresse, chegasse atrasado todos os dias, nunca foi convidado para sair. Nunca foi mandado embora, e mesmo que fosse a lei o faria voltar para o mesmo lugar.
Atualmente a escola é assim. Quem está na idade correta de frequência, faz o bom uso do estudo oferecido pelo Estado; agora, quem já passou da idade e foi rejeitado em todos os cantos da sociedade, a escola é obrigada a acolher este também.
Dentro da sociedade onde vivemos tudo termina e começa na escola. Para aprender a ler e escrever você precisa ir para a escola. Para fazer uso do programa do leite você vai à escola. Para escolher os tão falados políticos você vota na escola. Se há distribuição de cesta básica no bairro, concentra-se tudo na escola. Se precisar cadastrar uma quantidade de pessoas para algum programa assistencialista do governo, faz-se isso na escola. Se tiver uma reunião com a sociedade, reúne todo mundo na escola. Se os pais não conseguem educar os filhos, a culpa é da escola que não educou. Se a polícia prende um ''menor infrator'', ele deve ir para a escola. Se um ''menor'' comete um assalto à mão armada e mata a vítima, mesmo depois de ter roubado todos os bens de valores da pessoa, só para não ser reconhecido; o juiz determina que ele vá para a escola. Afinal, é o direito dele. Se o traficante quer ''adotar'' novos compradores e viciar a todos para garantir seu pé-de-meia, ele vai para a porta da escola. Se o aluno espanca os pais, a culpa é da escola que o estressou. Se o aluno mata os pais, a culpa é da escola que não educou direito. Se o aluno é espancado na saída do colégio, a culpa é da escola que não fez nada para não deixa-lo apanhar. E o aluno que bateu, ele é culpado? Não, a culpa é da escola que não evitou a espontaneidade do aluno. Se um aluno é ofendido com palavrões e apelidos insanos, a culpa é da escola que permite o bullying. Se um aluno entra com uma arma dentro da bolsa e mata um colega no pátio do colégio, a culpa é da escola que não viu isso antes. Se o aluno entra com uma garrafa de bebida alcoólica na mochila e toma tudo na hora do recreio, a culpa é da escola que não fiscalizou. Se o aluno rouba, a culpa é da escola que não podou isso. Se o aluno não estuda, a culpa é do professor, porque a escola é uma porcaria. Sendo que é na escola que tudo acontece, e tudo é culpa dessa mesma instituição, por qual motivo as escolas estão caindo aos pedaços? Onde foi parar a função primeira da escola que era simplesmente transmitir conhecimento e nada mais? Porque o governo não investiu, não investe, e duvidamos muito que um dia irá investir pesado em educação? Jamais essa última frase pode ser verdadeira para a mídia e o mundo político brasileiro. Segundo os políticos, todos os anos são investidos bilhões em educação, esse dinheiro só não chega à escola, mas que é investido é; dizem os engravatados. Mas se os políticos investem tanto em educação como dizem, por que as escolas estão caindo aos pedaços então? Por que os alunos vândalos de menor, que são protegidos pela lei, destruíram tudo e acabaram até com o último tijolo. Espere um pouco, se eles são vândalos e criminosos por destruírem o patrimônio público, por qual razão estão na escola? Deveriam estar presos e não numa instituição pública de ensino. Mas eles têm o direito de estudarem; dizem os seguidores da lei. Sim, eles têm o direito ao estudo, mas por qual motivo eles devem estudar no mesmo ambiente que pessoas inocentes frequentam; pessoas estas que ainda não cometeram crimes na vida? Ninguém explica isso, tudo que se fala é que ‘’lugar de criança é na escola’’. Por vezes é curioso ver ‘’menores’’ que manipulam armas, roubam e assassinam pessoas inocentes serem chamadas de crianças. Para a sociedade que convive com isso, sim, alguns deles são perigosos e não devem frequentar uma escola pública. Para os pais desses alunos perigosos, não, a culpa é do outro, isso não tem nada a ver, seus filhos são e sempre serão injustiçados. Para os pais das crianças inocentes ‘’meu filho não vai estudar ao lado desses’’. Para o governo, a culpa é da própria escola que não conversa com esses alunos. A culpa é dos professores que não tem domínio de turma. A culpa é do sistema que desvia boa parte daquilo que é investido.

Se o pai precisa trabalhar o dia inteiro, ele deixa os filhos na escola, quando não consegue vaga na creche. Se os pais tem alguma coisa para fazer no final de semana, ele fica furioso por que não tem aula para o aluno ficar na escola. Nesse caso, ele vai ser obrigado a levar os rebentos juntos, para onde for, e isso para alguns se transforma num inferno. A situação torna-se tão insuportável que algumas mães gritam: ‘’graças a Deus que amanhã é segunda feira e você vai para a escola, porque eu não aguento mais você em casa’’.



A grande maioria dos pais não está nem aí para o que o aluno aprende ou deixa de aprender na escola, o importante é que o filho fique por lá sem incomodar em casa. E que seja aprovado no final do ano, por que se ele não for aprovado; a culpa é do professor que não vale nada e o perseguiu o ano inteiro. Quando chove, alguns pais obrigam os filhos a irem para a escola, por que estão interessados na evolução intelectual do filho? Não, para uma grande maioria, eles querem se livrar do problema e evitar que os filhos fiquem incomodando em casa. Afinal, longe não tem incômodo. Graças a Deus existe o pai bom e a mãe presente, que acompanha o filho na escola. Que se interessa pela matéria que o filho está aprendendo e tem dificuldade em assimilar, e que conversa com os professores na intenção de encontrar o melhor caminho para a evolução intelectual do seu filho. Infelizmente nessa época, de final de ano, só os pais mais revoltados aparecem na escola para ameaçar os funcionários que lá trabalham. Quando chega o período de férias, aí vem o problema, os filhos ficarão em casa, e isso gera alguns transtornos para com a família. Como suportar os próprios filhos em casa durante um mês seguido, isso é um absurdo dizem alguns. Dias atrás uma mãe me disse na escola:
_ Essa criança é impossível, eu não posso com ela.
Na mesma hora pensei: ''se a senhora não pode com UMA criança, por que queres que eu possa com 51 crianças durante uma hora, e depois mais 51, e 51, e 51, e mais 51 crianças no espaço de mais quatro aulas, somando ao final de tudo isso terei de suportar, ou ''poder'' como disse a mãe, 255 crianças; numa única manhã. E depois mais 255 crianças no período da tarde, somando ao final de 10 horas de trabalho, 510 crianças num único dia. Fui mais além e fiz as contas da semana inteira, chegando à soma de 2.550 crianças em uma semana, e alcançando ainda o número de 10.200 crianças no final do mês''. Um não professor diria na mesma hora: mas você ganha para isso. E eu, sendo um professor, digo: ganho para transmitir o conhecimento que tenho sobre determinado assunto, e não para ser babá. Infelizmente a visão do mundo fora dos muros da escola é essa. Devemos cuidar e educar, moldar como cidadãos de bem e cultivar genialidade na mente das crianças dentro desse grande depósito chamado escola.
Sem dúvida alguma a escola deveria ser para quem quer estudar, para quem quer ser alguém na vida, e não para todos. Isso é ridículo. Você enfia milhares de centenas de pessoas dentro de um único ambiente, e todos aqueles que lá estão devem suportar e dar conta de tudo. Quando a constituição diz que todos têm o direito, isso deveria ser seguido à risca. Ter o direito à educação compreende-se que a sensatez está inserida nessa expressão. Ter o direito à escolha também deveria ser uma premissa em várias situações. Você quer ou não quer? Isso é ter o direito de escolher. Agora, ao mesmo tempo em que você tem o direito, você é obrigado a ir até lá. E se eu não quiser ir para a escola? Daí sua família, seus responsáveis e mais um monte de gente que está envolta de você irão sofrer as consequências. Aí é obvio. Coloque alguém em um lugar que ele não quer ficar de maneira alguma, ele vai fazer de tudo para sair de lá; em muitos casos é isso que acontece. Os presos não devem gostar de ficar na cadeia, deixe uma porta aberta para ver o que acontece. Tem gente que não gosta de ficar na escola, mas nem por isso fogem se a porta estiver aberta, preferem arrebentar com tudo lá dentro pra mostrar sua indignação. Por fim o juiz determina, volte para a escola. A escola tem regras, mas se a pessoa quer sair dali, alguém em sã consciência acha que esse ser irá seguir tais regras? Pelo amor de Deus. Se você não segue as regras da cadeia, você pode morrer lá dentro. Se você não segue as regras da escola, você pode passar de ano aprovado pelo conselho de classe. Uma coisa é fato, a escola não vive sem o aluno. Não haveria razão alguma para existir uma escola se não tivesse aluno no mundo; o que não concordo nessa situação é a forma como tudo isso é conduzido. ‘’A regra é clara’’, diria Arnaldo, lugar de criança é na escola, para estudar e seguir as regras, afinal, a escola é uma instituição que existe muito antes da maioria desses alunos nascerem. Sendo assim, por qual motivo a escola deve se adaptar as regras dos alunos, e não os alunos devem se adaptar as regras da escola?
As regras da escola, isso é outro problema. O que adianta a escola possuir um regulamento interno, sendo que sempre vai ter alguém ou alguma lei acima disso tudo? Não adianta nada. Se a escola proíbe o aluno de usar boné. Uma gangue ameaça os pedagogos na saída da escola, e o boné é liberado. Se o professor toma o boné do aluno, enquanto esse está pouco se lixando para o Hino Nacional Brasileiro os pais aparecem na escola, ‘’armados’’ até os dentes, com seus ‘’direitos’’ em mãos para recuperar o boné do filho inocente. Se o regulamento diz que é proibido usar celular, alguns pais entram com um pedido na ouvidoria, na secretaria de educação e no núcleo, alegando que o celular serve para se comunicar com o rebento num momento de emergência, e o celular é liberado. Se a escola proíbe namorar em suas instalações, uma mãe vai até o colégio e arma um circo, até a ''criança'' ser liberada para isso. Se a escola diz que um aluno que estourou o limite de faltas, e tem nota inferior a 40 pontos em cinco matérias, está reprovado, e por esse motivo não deve progredir para o próximo ano, por qual motivo sempre aparece um documento de algum chefe, dizendo que ele deve ser aprovado sem questionamentos? Se a escola diz que é necessário fazer um conselho de classe para analisar todos os casos de alunos que estudam, e alunos que não estudam, por qual razão sempre aparece um novo documento dizendo que todos devem ser aprovados, caso contrário o estabelecimento ficará sem os recursos necessários para o próximo ano. Imagine só. O dinheiro aplicado, daqueles bilhões, já é mísero, imagine perder até esse mísero? Aí já era mesmo. Por fim, a culpa é da escola, e sempre será, até quando? Ninguém sabe e ninguém imagina, pois nesse país onde vivemos a escola não é prioridade em nada. O último presidente do Brasil assumiu dizendo que iria dar tudo para a saúde, e tendo em vista que a saúde pública nesse país está um lixo, imagine a educação que ainda não recebeu esse ''tudo''; vai demorar um tempo ainda para chegar a ser lixo.


O que fazem muito bem é encontrar culpados. Sempre tem um culpado para tudo. O professor é mal preparado. O professor ganha pouco, por isso ele não trabalha direito. Mas, o aluno não estuda. Mas, o governo não manda verbas. Mas, os pais se intrometem na escola o tempo todo. Mas, a Secretaria de Educação está mais preocupada com outras coisas do que com o ensino. Mas, o núcleo não se preocupa com o que ocorre nas escolas. O sindicato dos professores só faz protesto para aumentar salário, mas não se preocupam com mais nada, pois eles não estão em sala de aula. O presidente não está nem ai para educação, muito menos os políticos, por que os filhos desses não estudam em escolas públicas, mas sim em escolas particulares. A escola é para todos, isso é democracia. E que país é esse para falar em democracia, onde o voto é obrigatório, o serviço militar é obrigatório em seu alistamento, pagamos imposto para tudo sem ter o direito de dizer que isso ou aquilo eu não quero pagar, e todo ano vemos mães e filhos dormindo nas filas para conseguir uma vaga de matrícula numa escola caindo aos pedaços? Enfim, a culpa é de quem? Do povo que não sabe votar? Do povo que fica quieto para tudo? Dos políticos que enganam e passam por cima da opinião popular o tempo todo? A culpa é de quem? Da escola, com certeza! Afinal, tijolos, paredes e carteiras caindo aos pedaços não acusam mais ninguém. Tudo termina ali, naquele ambiente, naquele depósito de gente, de ideias e de acusações cotidianas.



Uma professora indignada saiu da sala de aula e gritou com o diretor dizendo: ‘’não fico mais naquela turma, ou aquele aluno sai dessa escola, ou eu saio’’. O diretor olhou para ela e disse: ‘’então saia você, porque não podemos tirar o aluno da escola, é contra a lei’’. A professora exonerou seu cargo, entrou em depressão profunda, conseguiu um emprego de empregada doméstica e hoje tem uma qualidade de vida 500 vezes melhor do que quando enfrentava uma turma de alunos sem interesse. Quando perguntada o que a levou até ali, a resposta é uma só; a culpa é da escola.
Pois é, a culpa sempre é da escola. Afinal, ninguém investe na escola. Desviam o dinheiro da merenda e nada acontece. Superfaturam obras que nunca ficam prontas, e nada acontece, agora; vai arriscar dizer em alto e bom som o nome de algum ser humano que não merece usufruir da escola, você será caçado até os confins dos seus chamados direitos, aí com certeza estará condenado a passar de ano aprovado pelo Conselho de Classe.

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