''Quando acertamos ninguém se lembra, quando erramos ninguém se esquece''

domingo, 6 de fevereiro de 2011

''TOLIMA desclassifica o GORDO'' - manchete de um jornal das Américas

Uma vez eu fiz um combinado comigo mesmo que não postaria nada de futebol neste espaço, mas desta vez tenho que romper com a minha pessoa e fazer pelo menos um mísero comentário. Acredito eu, assim como Lima Barreto acreditava, que o futebol não deveria ser levado tão a sério, e que por fim, deveria parar de existir. O Escritor Lima Barreto, o qual admiro profundamente, chegou a promover a formação de uma Liga Brasileira Contra o Futebol, pois considerava "o tal jogo de pontapés" um signo de regressão à barbárie. Concordo com ele, em vários pontos, sem dúvida alguma concordo com ele.
O que vemos na derrota de um time para outro time? Jogadores tristes que baixam suas cabeças e vão embora, pensando em corrigir as falhas e vencer numa próxima oportunidade, ou, uma espécie de versão tropical daquilo que está acontecendo no Egito? A resposta fica com a segunda opção. Pedras voando, pedaços de madeira caindo na cabeça de quem ousasse entrar na frente, ônibus chutado, esmurrado, e ''agredido'' por pedaços de madeira. Polícia correndo para todos os lados tentando arrumar um pouco o ambiente, enquanto poderiam estar fazendo algo mais útil em outros cantos da cidade. Por fim, a pergunta: o que leva uma ''besta semi civilizada'', como disse muito bem George Carlim, a fazer o que fazem após verem seu time perder para outro time? Fazem todo tipo de coisa, inclusive odiar um jogador que já foi amado por eles mesmos... Estranho, muito estranho.
O jogador ganha milhões por ano, o torcedor, quando muito, ganha o suficiente para pagar imposto de renda; mas pouquíssimos alcançam a marca de ganhar milhões por ano, enfim, o jogador ganha milhões, o torcedor não ganha milhões. O torcedor fanático é aquele que tem falta de algumas coisas básicas em casa, como o leite do filho, o arroz, o feijão, e de vez em quando uma carne. Muito bem. Este mesmo torcedor ganha uma quantia em dinheiro que gira em torno de um salário mínimo, atualmente 510 reais. Uma entrada de jogo de futebol varia entre 30, 40, 50 e 60 reais, até mais que isso, quando não é um clássico ou um chamado jogo muito importante. Ah sim, e esta cotação é para o futebol masculino, o futebol feminino tem entradas que vão de 5, 10 e 15 reais, se a jogadora Marta não estiver em campo, caso contrário, lucram com a habilidade dela também e sobem o ingresso. Voltamos ao raciocínio do início. Um trabalhador tira do seu salário mínimo 30 reais para ir ao jogo no domingo, ver a estreia de determinado jogador ou não. Se ele for assistir aos jogos que acontecem nos quatro domingos do mês, ele gastará 120 reais, somente em entradas. Se ele ganha 510 reais e gasta 120 somente em entradas de jogos de futebol, ele precisa se virar com o resto para pagar água, luz, telefone se tiver, e as chamadas coisas básicas que listei acima. E então, ele gasta isso para sentar num banco sem muito conforto, num local não muito protegido dos demais, para assistir ao jogo. No campo, correm trabalhadores que ganham um milhão e meio por mês, citando o caso dos ''grandes'' jogadores de futebol, e quando menos, 130 mil, 500 mil, 780 mil reais por mês. Em times pequenos um jogador ''sem nome'', como dizem, mais, profissional, ganha mil reais, 2 mil, até 5 mil ou 10 mil reais por mês.
Eis que o jogo acaba. O jogador vai para o vestiário, toma um banho, entra no ônibus e vai embora. No outro dia joga mais futebol, pois está treinando, e então tem um novo jogo dali um tempo. E o torcedor? Sai do estádio, encontra uma briga, tem uma pedra atingindo a cabeça de seu filho menor de idade, entra num ônibus, encontra torcedores rivais, o tempo fecha, todos se quebram, alguns vão para o hospital, outros vão para o cemitério, outros vão para a cadeia, e a grande maioria vai pra casa passar remédio nos ferimentos, por que na segunda feira é preciso levantar as 5 horas da manhã para não perder o ônibus que leva ele para o trampo. E no meio de tudo isso tem aqueles que não tem nada a ver com o assunto, que foram até lá somente para assistir ao jogo, que não tem falta de necessidades básicas em casa, e que são apenas consumidores de entretenimento. É o exemplo de estar no lugar errado na hora errada.
Quando o torcedor tem carro a coisa muda de figura, e geralmente tem carro aqueles que buscam apenas o entretenimento; quando este chamado motorista volta para seu carro após ver o jogo, ele pode encontrar seu carro todo riscado, ou pode não encontrar o carro assim que sai do estádio, mas isso é um risco passível de acontecer com qualquer um. Vidro quebrado, pneu furado, porta amassada, capô no chão e motor saqueado, e outras coisas que ocorrem. Até mesmo com um torcedor que estava apenas satisfazendo sua vontade de ir, ver, e voltar pra casa isso pode acontecer a qualquer momento. O pior é saber, depois de uma noite cheia de problemas, com a ida até o estádio e principalmente a volta que faz daquele lugar, que o jogo foi transmitido pela televisão, no conforto do seu lar.
No caso do Corinthians, o time foi desclassificado. Saiu mais uma vez de um campeonato tão desejado por eles, que parece uma missão irrealizável até pelo Ton Cruise; mas, fazer o quê? Matar alguém? Chutar alguém? Enforcar alguém? Isso pode não resolver o problema, as vezes ameniza, mas não resolve, pois já está fora mesmo... Culpar um cara considerado gordo, também não é a solução mais inteligente. Talvez um conselho, uma ajuda, um palpite, enfim, neste caso de futebol, na tentativa de encontrar uma solução para os problemas ocorridos nos jogos, que na minha opinião não tem valor algum e nenhum poder de influência na minha vida e na vida de tantos; fico mesmo com Lima Barreto, uma liga seria o ideal.
Muitos culpam o técnico, brigam com tudo e com todos, se matam, campeonatos vão e o time ganha, campeonatos vem e o time perde, num determinado momento nós te amamos ''Coringão'', num outro momento, nós temos vergonha de você ''Coringão''. Ronaldo é mais um para o ''bando de loucos'', atualmente, Ronaldo é um ''gordo que não vale nada''; no fim, os jogadores continuam ganhando muito dinheiro, não dividem nada com seus ''fieis torcedores'', e os fanáticos ao ganharem uma briga, sentem-se satisfeitos por terem feito a parte deles. Parabéns para aqueles que exibem num churrasco com seus coleguinhas, a camiseta rasgada e manchada de sangue, arrancada do corpo de outro torcedor... Continuem tendo orgulho de serem assim.