''Quando acertamos ninguém se lembra, quando erramos ninguém se esquece''

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Os Professores e a GREVE com PIJAMA

Desde que eu nasci eu escuto falar que professor ganha pouco. Também sempre disseram que professor não gosta de trabalhar, é estressado, e assim por diante... Depois que me tornei professor confesso que 70% dos professores se enquadram no primeiro item, já os 30% restantes se enquadram nos dois últimos itens.
Em agosto de 1988 os professores da rede pública de ensino do Estado do Paraná já estavam em greve há muitos dias. O então governador do Paraná Álvaro Dias não aceitava negociar ou simplesmente conversar com os professores enquanto estes não voltassem a dar aula. Os professores queriam a volta do piso de três salários mínimos, pois havia sido reduzido para dois salários em 1988. Com o objetivo de forçar uma solução mais rápida para a paralisação, que já completava 11 dias, os professores ocuparam a Assembleia Legislativa, onde ali ficaram até o dia 31 de agosto.
Porém, no dia 30 de agosto, houve o encontro dos núcleos regionais do sindicato na Praça Tiradentes e uma passeata até a sede do governo. Assim que lá chegaram os professores encontraram a polícia em frente ao palácio. A cavalaria montada da Polícia Militar ao perceber a aproximação da massa de professores atacou a todos. Foram lançados gás de pimenta e bombas de efeito moral. Logo que as primeiras bombas começaram a estourar a multidão começou a correr, para não perderem o foco, que era de machucar os professores, a cavalaria pisoteou quem eles puderam. Cacetetes encontraram as cabeças, os braços e as pernas dos docentes em vários momentos. Teve gente sangrando de todos os lados e policial satisfeito em outros cantos. O governador teve suas ordens cumpridas e os professores ficaram marcados por um longo espaço de tempo.
O tempo passou, e no ano seguinte, em 1989 os professores relembraram o triste 30 de agosto. Então os anos foram passando e os professores nunca se esqueceram do dia 30 de agosto. Um jornal interno do professorado do Paraná fora criado e recebeu o nome de 30 de agosto. De vez em quando chega um ou outro exemplar no colégio onde trabalho. Então o tempo passa, e passaram-se 20 anos daquele momento, e 21 anos e 22 anos. Chegamos em 2010, e novamente com a proximidade do dia 30 de agosto começam a pensar numa forma de lembrar aquele momento triste para os professores que só queriam o seu dinheiro de volta, mais nada.
Lembro-me quando eu estava na escola, alguns anos após o dia 30 de agosto, os professores não paravam de trabalhar neste dia. Nós, os alunos, íamos para a escola e lá os professores nos contavam o que tinha acontecido naquele dia. ''Foi a maior passeata que já vi em toda a minha vida de professor. Eram cerca de 30 mil pessoas, uma multidão empurrando de um lado e os policiais com cavalos e bombas do outro lado, vindo pra cima da gente'' contavam os professores do colégio onde estudei. Depois que recebíamos toda a informação teórica do que tinha acontecido, víamos as imagens. Uma fita vhs, contendo reportagens de vários jornais da televisão mostravam a covardia de todos os ângulos. No final do período, íamos embora pra casa.
Não me lembro dos professores não irem para a escola neste dia, pelo menos não naquele momento que eu ainda era um pequenino aluno de uma escola estadual da periferia paranaense.
Hoje em dia os protestos são mais modernos. A maioria dos professores levantam as mãos na sala dos professores para perguntar em voz alta:
_ Quem aqui vai protestar no dia 30 de agosto?
Geralmente quem grita a pergunta é um dos professores que acredita causar medo nos demais. Então a grande maioria concorda com o que ele diz. Nesta ocasião alguns dizem que não irão para a escola, a fim de protestar.
Protestar pelo quê? Pergunto...
Protestar pelo ex governador ter soltado os cavalos em cima dos professores?
Não sei, e eles também não sabem explicar. Não sabem por que a maioria não sabe nem de onde sai a passeada que vai caminhando até o palácio do governo. A maioria que diz ''protestar'', fica em casa dormindo. Dentro do seu pijama. Grande ''protesto'' este. Até agora não sei por que chamam de protesto algo que é uma lembrança de um dia triste, enfim...
Vamos raciocinar. A pessoa trabalha numa empresa, recebe o salário por aquilo que ela trabalha, mas então num determinado dia, lembrando de algo que aconteceu há 22 anos, ela não vai trabalhar e fica em casa dormindo, para protestar, segundo ela. O que a empresa deve fazer com este tipo de gente?
Deve lançar a falta e descontar do salário dela, o que seria uma pena leve; deve demitir e mandar ela procurar a turma dela, o que seria mais coerente; mas não, neste caso, os que ficam em casa estão pouco se importando para o que vai acontecer, por quê? Talvez seja porque estejam vivendo na filosofia do ''não dá nada''. E pior que não dá mesmo. Ficar em casa dormindo e não ir trabalhar naquilo que você escolheu para fazer, dá licença, mas vai catar coquinho. Então suma desta função e vá fazer outra coisa.
Quando eu digo que este tal protesto é aproveitar um dia de lembrança triste para ficar em casa dormindo e não ir trabalhar, tem gente que fica furioso comigo, mas vamos raciocinar novamente. No ano passado, em 2009, o dia 30 de agosto caiu num domingo. Então nos resta fazer a pergunta: se é um dia de tanto protesto assim, por qual motivo os tais professores não levantaram de suas camas no domingo e foram até o centro da cidade protestar? Respondo, por que era domingo, agora pasmem, eles faltaram no trabalho na segunda feira, para ficar dormindo em casa, dizendo que estavam protestando pelo dia 30 de agosto, e que só não fizeram no dia 30 mesmo, por que era domingo... Pelo amor de Deus. Esta foi a pior. Agora pensem, é ou não é para não trabalhar? Protesto coisa nenhuma, isso é conversa pra boi dormir, ou pra professor dormir, que é o que fazem.
Este texto não se enquadra àqueles que de fato racham a cabeça no sol gritando e levantando bandeiras na frente do palácio do governo, em todos os outros dias do ano, menos no dia 30 de agosto; este texto é direcionado àqueles que ficam em casa dormindo nos chamados dias de protesto, ou dias de lembrança, e ficam condenando os que não aderem as suas ideias de ''ganhar um dia de folga extra''. Sou solidário aos professores que preferem ir para a escola no dia 30 de agosto do que ficar em casa dormindo achando em seus minúsculos cérebros e suas ridículas opiniões que estão fazendo a coisa mais certa do mundo. E o pior é você ver um infeliz desse dizer com a boca cheia de razão: ''Eu não vou em protesto coisa nenhuma, fico em casa dormindo que eu ganho mais''. É este tipo de gente que queima todos os 30% que entregam as tripas e o coração para formar alunos e fazer uma escola melhor.
No ano passado ao conversar com um professor que tinha ido até o palácio do governo no dia 31, um dia após o chamado ''dia de luta'' para alguns, e ''dia de protesto'' para outros, ele me contou que na verdade eles não andaram até lá. Ficaram parados na praça e o sindicato negociou a falta deles naquele dia. Ao questionar quantos professores estavam por lá naquele momento, ele me disse: ''mais ou menos uns 60''.
Negociar a falta para aqueles que ficam em casa dormindo?
Quando eu era pequeno sempre ouvia as pessoas falarem que professor é vagabundo e não gosta de trabalhar, depois que cresci, estudei e me formei, vi que nem todos são assim, só 70%...