Eu trabalhei muito tempo em lugares estranhos, onde a maioria das pessoas nunca iriam por conta própria, mas mesmo assim trabalhei. Moro sozinho desde os dez anos de idade, quando meu pai saiu para comprar suspiro cor de rosa, aquele com a bexiguinha em cima, e nunca mais voltou para casa. A casa estava no meu nome, coisa que meu pai fez logo que divorciou da minha mãe, e por isso fiquei com uma casa própria pra mim, só pra mim. Enfim, no começo os vizinhos me davam comida, era legal, comer e assistir televisão o dia inteiro, mas depois de um tempo, quando fui crescendo, eu comecei a ficar com medo de não ter mais nada na vida, então comecei a trabalhar com coisas que me ofereciam. Nunca tive alguém que quisesse morar comigo, mas eu não ligo pra isso, qualquer dia aparece alguém, o que ainda não aconteceu; por enquanto vou vivendo.
Aquele abraço que recebi, após comprar o bilhete premiado da mega sena da virada, que estão dizendo já foi pra 200 milhões, foi a melhor coisa que me aconteceu nestes dias ridículos de fim de ano. Eu não gosto de beber neste período, mas eu bebo para esquecer que não tenho ninguém, e para aliviar um pouco a inveja de quem tem alguém. Eu fui abraçado, esta foi a melhor parte.
Depois do abraço, tirei uma foto da mulher, guardei bem guardado o meu bilhete premiado e fui embora pra casa. Na esperança de que um arroz e feijão estavam lá me esperando, bonitos e felizes para serem transportados ao meu estômago infeliz...
Depois de comer, quero dormir muito, mesmo que para isso eu tenha que fechar os olhos e só acordar no próximo ano... Sei lá.
Bem, eu escrevo aqui por que tenho a senha, ninguém precisa concordar com nada, eu só escrevo por que sinto vontade de falar com alguém do outro lado desta tela eletrônica...