''Quando acertamos ninguém se lembra, quando erramos ninguém se esquece''

sábado, 25 de setembro de 2010

LULA, Oscar e a COMISSÃO

A Cinemateca Brasileira anunciou nesta semana que o filme "Lula, o Filho do Brasil", de Fábio Barreto, será o representante brasileiro por uma vaga na categoria melhor filme em língua estrangeira na 83º Oscar, promovido pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood. Quem anunciou o filme como o escolhido para concorrer ao Oscar, foi o cineasta Roberto Farias, que fez parte da comissão. A mesma que escolheu ‘’Lula’’ como o filme pronto para nos representar. Se é que podemos dizer assim...

Segundo disse o próprio Farias, a escolha teria sido feita por unanimidade. De acordo com ele, todos os filmes foram analisados cuidadosamente. "Mas 'Lula' nos pareceu melhor por representar a história de milhares de brasileiros", disse Farias. "Além disso, o Lula é uma estrela aqui e também lá fora.". Isso me fez lembrar da musica de campanha do atual presidente; ‘’LULA LA LA, BRILHA UMA ESTRELA’’, enfim...

"Lula, o Filho do Brasil" foi escolhido de uma lista de 23 inscritos formada por “A Suprema Felicidade”, “Antes que o mundo acabe”, “As Melhores Coisas do Mundo”, “Bróder”, “Carregadoras de Sonhos”, “Cabeça a Prêmio”, “Cinco Vezes Favela - Agora Por Nós Mesmos”, “Chico Xavier”, “É Proibido Fumar”, “Em Teu Nome”, “Hotel Atlântico”, “Nosso Lar”, “O Bem Amado”, “O Grão”, “Olhos Azuis”, “Os Inquilinos”, “Os Famosos e os Duendes da Morte”, “Ouro Negro”, “Quincas Berro D’Água”, “Reflexões de um Liquidificador”, “Sonhos Roubados” e “Utopia e Barbárie”.

Mesmo que o filme ‘’NOSSO LAR’’ estivesse liderando as escolhas pela Internet, pelo júri popular, isso não conta, a opinião do povo nesta hora não tem valor algum. Que estranho, não consigo me lembrar agora onde a opinião do povo tem valor neste país, enfim... Este ano a Comissão de Seleção para escolher o filme que irá nos representar, se é que posso dizer assim, foi ampliada e o Ministério da Cultura não foi a única instituição a indicar o concorrente brasileiro. O grupo foi composto por membros indicados pelo Gabinete do Ministério da Cultura (MinC), pela Secretaria do Audiovisual do Ministério da Cultura (SAv/MinC), pela Agência Nacional de Cinema do Brasil (Ancine) e representantes da Academia Brasileira de Cinema (CBC). Para esta escolha, os componentes da banca foram Cássio Starling Carlos, Clélia Bessa, Elisa Tolomelli, Frederico Hermann Barbosa Maia, Jean Claude Bernardet, Leon Cakoff, Márcia Lellis de Souza Amaral, Mariza Leão Salles de Rezende e Roberto Farias.

Embora o filme ‘’Lula’’ esteja arrumando as malas para ir até os Estados Unidos, não adianta criar expectativa neste momento. Chegar ao Oscar não é tão fácil quanto parece. E ser escolhido para representar o Brasil na disputa pela estatueta, não quer dizer que ele já ganhou alguma coisa. Não ganhou nada, ainda. Ser indicado por um grupo de pessoas, enquanto a população inteira e grande parte dos cineastas do país criticam esta escolha, não quer dizer que tenha ganho algo. É preciso analisar o que existe por trás de toda esta escolha. Agora que o filme foi escolhido, ele entra num avião, levado por alguém é claro, e chega na comissão de seleção do Oscar. Uma vez lá, o filme "Lula, o filho do Brasil" vai concorrer com produções de mais de 95 países à indicação final. Ou seja, vão assistir aos filmes por lá também e ver quais merecem entrar na lista final. A lista final contém cinco filmes. Esta lista, com os cinco filmes selecionados será anunciada em 25 de janeiro. A cerimônia de premiação será realizada no dia 27 de fevereiro de 2011. E só então, lá no palco, com algum ator ou atriz famosa abrindo o envelope, saberemos quem é o ganhador de melhor filme em língua estrangeira.

Na intenção de justificar a escolha deste filme, enquanto boa parte dos cinéfilos brasileiros escolhiam outro filme, o secretário do audiovisual Newton Cannito tentou explicar a votação realizada na Internet, promovida pelo próprio MinC, que ignorou completamente tudo o que estava sendo falado e questionado a respeito do filme ‘’NOSSO LAR’’. Para ele, a votação na Internet não teve peso na escolha da comissão. Isso ficou óbvio, não precisava nem ter falado. Disse: “Sempre ficou claro que a enquête não teria qualquer relevância nessa escolha. Mas ela serviu para mostrar como os brasileiros estão interessados no assunto”. Que assunto? Entre, escolha você o filme que mais gostou neste ano, mas saiba que a gente não está nem aí para sua opinião, pois o filme que mais gostamos não é o mesmo que você gostou. Talvez seja isso. Foram mais de 130 mil votos, e “Nosso Lar” ficou em primeiro lugar, com 70%. “Lula” ficou em 6º, com 1.646 votos, o que representa 1%.

Eu sempre tive uma opinião nesta questão de críticos que recebem para fazer críticas de cinema. A maioria deles sempre se posicionam contra a vontade popular. Para comprovar isto, basta ler uma crítica qualquer de um dos chamados ‘’críticos profissionais’’. Quando o povo gostar de alguma coisa, eles falam mal, quando o povo odeia, eles ovacionam o filme como sendo a obra prima do século. É sempre muito estranha esta relação de opiniões.


Mas, e o pessoal que já está criticando o filme ‘’Lula’’, por ter sido escolhido em um ano de eleições, onde a candidata do próprio aparece em primeiro lugar nas pesquisas. Depois de terem adiado o lançamento deste mesmo filme, para o início da corrida eleitoral, no início do ano. Por ter sido produzido por pessoas de peso dentro da estrutura rica do cinema brasileiro; digo isso por que sem dinheiro você não entra nem pela porta dos fundos de uma produção cinematográfica neste país. Ainda mais se quiser produzir, divulgar e integrar listas de escolhas. Você corre o risco de morrer sonhando. Roberto Farias disse que a comissão julgadora está ciente das críticas que pode receber por ter escolhido o filme – especialmente por estarmos em ano de eleição, mas explica que foram levados em conta apenas critérios cinematográficos. Disse ele: “Vivemos, espero que para sempre, numa liberdade de expressão”, um tanto quanto estranha a frase, mas enfim.

O diretor da Mostra de Cinema de São Paulo, Leon Cakoff, disse que a questão política ‘está fora da vida própria que o filme tem’. “Inclusive, o filme foi pouco visto pelo público”. Que coisa. Só neste país, onde um filme pouco visto pelo público é escolhido como a obra máxima do nosso cinema. Não me estranha a escolha do filme do ano passado, ‘’SALVE GERAL’’, que não passou nem na lateral das sargetas de Los Angeles. Quem dirá chegar entre os finalistas. Na cidade onde moro este filme nem sequer foi citado pelos cinemas, ou seja, muito menos gente assistiu.

Depois da escolha do filme ‘’Lula’’, a comissão julgadora tratou de ficar justificando a escolha, como se existisse um sentimento de culpa por terem selecionado esta película para nos representar, se é que podemos dizer assim. A produtora Mariza Leão disse que todos da ‘’comissão estão isentos’’, afinal, ninguém ocupa cargo no governo, nem é candidato. “Nosso partido é o cinema. Escolhemos um filme que possa nos representar com dignidade”.

A cineasta Tata Amaral acredita que a fama internacional do Lula possa ajudar na campanha do filme. “Ele tem prestígio no mundo todo”. Ela conta que na escolha também se levou em consideração que os produtores do filme, Lucy e Luis Carlos Barreto, são experientes quando o assunto é Oscar. “Levamos em conta também que o filme poderia aproveitar essa oportunidade. É necessário um grande investimento, uma campanha, e eles são produtores de fôlego”. Não adianta neste momento nem contar como o filme ‘’O QUATRILHO’’ chegou ao Oscar no início dos anos 90.

Roberto Farias se mostra bastante otimista, e acredita que não apenas o filme tem chances, mas também o elenco. “Temos uma grande intérprete à frente de ‘Lula’ [Gloria Pires], uma excelente candidata ao prêmio de melhor atriz”. Que ela é uma grande atriz isso ninguém tem dúvida.

Eu assisti ao filme, e gostei do que vi na tela. A história realmente emociona a quem assiste, ainda mais se você teve uma infância pobre e sofrida. Em alguns pontos oculta detalhes contados no livro, mas o filme tem uma boa narrativa. O que me deixa indignado é a forma como os filmes que vão nos representar no chamado Oscar é feita. A comissão montada para isso. A força dos produtores e distribuidores. A enganação que o povo é submetido ao se fazer acreditar que alguma decisão popular seja acatada pela elite cinematográfica. A forma amadora de tratar o cinema brasileiro, como se esta comissão governamental fosse o poder supremo de tudo, dizendo que é assim e acabou. Talvez a partir de agora, com a escolha do filme ‘’Lula’’, as vendas de DVDs e Livros aumentem, para alegria daqueles que possuem seus direitos autorais... Ganhar o Oscar é um detalhe, vender muito até lá, pode ser a realidade.