''Quando acertamos ninguém se lembra, quando erramos ninguém se esquece''

quarta-feira, 6 de abril de 2011

O médico esquecido, O vendedor estranho e a Raiva Momentânea

Eu só precisava tomar um remédio. Paguei uma consulta, fui ao médico e depois de muito conversar comigo, sobre o que eu estava sentindo, ele me receitou um remédio. O estresse da profissão está me levando dia a dia para um caminho estranho. O que mais estressa nesse trabalho é não poder fazer nada igual àquilo que recebo, e ser simplesmente um saco de pancadas de pais irritados com a minha ''incompetência'' por não fazer dos filhos deles os melhores. Por fim... Eu fui ao médico. Ele me deu uma receita. Eu saí do médico e fui para a farmácia, lugar este onde se compra remédios com receitas de médicos. Eis então, que em pé na frente do balcão de uma farmácia, o vendedor me olhou e disse:
_ Não posso lhe vender este remédio. _ Por que não?_ perguntei a ele. _ Por que o médico não colocou a data da receita. _ E daí?_ eu indaguei. _ E daí que não tenho autorização para vender nada sem data na receita._ disse ele. _ Eu fui ao médico. Eu peguei uma receita. Eu preciso desse remédio. E você me diz que não vai me vender nada por que o cretino do médico não colocou a maldita data na receita?_ falei. _ Sim. Não tem a data. Não posso vender. _ Se isso é problema, eu coloco a data._ puxei uma caneta que estava no balcão e coloquei a data de hoje. _ O que você fez?_ perguntou o vendedor. _ Coloquei a data na receita. O problema era não ter data, agora têm._ eu disse controlando meus nervos para não ser mal educado com ele. _ Não posso lhe vender desse jeito._ ele me devolveu a receita. _ Eu não vou te xingar, só vou embora._ falei enquanto pegava a receita e saía da farmácia. Atravessei a rua e entrei em outra farmácia. Coloquei a receita no balcão e falei devagar: _ Eu preciso desse remédio. A vendedora olhou para o papel e disse:
_ Que estranho, o médico colocou a data a caneta e toda a receita está impressa no computador.

_ É, esse médico é bem estranho. Talvez eu nem volte mais lá._ falei. Sem demora, ela pegou o remédio e me entregou dizendo:
_ Pode pagar no caixa.
Paguei e fui embora. Talvez eu volte àquele médico para dizer o quanto ele me deixou irritado por não ter colocado a data na receita. Talvez eu nem volte mais lá. Talvez eu pague algum tempo no inferno pela mentira que contei a vendedora de remédios da farmácia. Talvez o médico tenha esquecido realmente de colocar a data na receita e não tenha feito de má fé. Talvez meus números se pareçam com os números do médico. Talvez o vendedor da primeira farmácia tenha denunciado a segunda farmácia, quando me viu sair de lá com uma caixa de remédios na mão. Talvez tenha pensado que perdeu um cliente. E nisso ele está certo, realmente não volto mais àquela farmácia. Talvez eu diga um dia para a moça da segunda farmácia que eu tinha colocado aqueles números lá. Talvez isso diminua meu tempo no inferno. Talvez eu nem precise mais tomar remédio. Talvez, Talvez, Talvez, Talvez se o mundo tivesse somente pais que soubessem criar filhos dando-lhes valores e responsabilidade, eu não tivesse que passar por isso. Talvez...