''Quando acertamos ninguém se lembra, quando erramos ninguém se esquece''

sábado, 20 de agosto de 2011

O CONE - capítulo 8

Para entender o que acontece aqui: Em meados do ano passado comecei escrever um livro neste blog. A cada semana eu postava um capítulo novo do livro intitulado O CONE. A estória se baseava na atitude de um menino que reside no bairro onde moro, quando o flagrei roubando um cone da Companhia Paranaense de Energia Elétrica (COPEL), durante a manutenção de um poste que estava danificado. Voltei pra casa e aquela cena permaneceu na minha memória por vários dias. Eis então que tive a ideia. Comecei a escrever sobre um homem que saía de casa toda semana e roubava cones espalhados pela cidade. Ele não podia ver um cone dando sopa que lá estava ele pegando o objeto. O tempo passou, e parado no capítulo 7 permaneci por muitos meses. Retomando o ânimo, volto ao meu raciocínio de antes e continuo a história a partir de então.

Bruno é um homem solitário. Mora sozinho. Cozinha sozinho e come sozinho quase todos os dias. Sai pouco e tem problemas com os vizinhos. Periodicamente recebe a visita da filha. Conversam por alguns minutos e ele fica sozinho novamente. Tem como única companhia uma caveira de plástico que ganhou de presente da mãe há muitos anos.

Bruno acorda e senta na cama. Olha para os lados e imagina coisas a respeito de um futuro que ainda não conhece. Idealiza num rápido instante algo magistral para sua vida em preto e branco. Não consegue contar nada a ninguém. A única amiga que tem neste momento é uma caveira, reduzida a um crânio de plástico, colocada em um dos cantos do quarto onde dorme. Sem demora levanta do lugar onde está e caminha até o objeto. Recolhe-o do chão e abraça com carinho.

_ O que você estava fazendo ali, sozinha?_ pergunta para o crânio.

A porta abre lentamente sem que ele perceba. Os passos não são ouvidos. Alguém entra em sua casa e caminha com lentidão na direção do lugar onde ele está.

_ Bom dia._ diz uma voz feminina.

Surpreso com o cumprimento de bom dia o homem assusta-se, lançando-se na cama que acabara de abandonar.

_ O que houve papai assustou-se?

_ Claro que sim._ responde.

_ Não acredito! O que está fazendo com este crânio nos braços novamente?

_ É minha amiga._ diz com a voz trêmula.

_ Não é sua amiga papai, é uma paixão antiga, mas não pode ficar falando com ela._ explica a mulher.

_ Por que não posso?

_ Papai..._ a mulher senta na cama ao lado dele._ Eu já lhe disse. O senhor sempre sonhou em ser médico, mas não é médico. Nunca será um médico. Quando a vovó comprou esta caveira ela esperava que o senhor se inspirasse e estudasse para ser um médico. Era o sonho da vovó vê-lo se transformar num médico, mas o senhor não seguiu este sonho. Então deve parar de ficar andando com esta caveira embaixo do braço.

_ Ela é minha amiga. E não é uma caveira, é um crânio._ corrige-a.

_ Tudo bem papai, é um crânio, mas não pode ficar conversando com um crânio de plástico.

_ Onde está minha mãe?_ pergunta o homem.

_ Ela faleceu há alguns anos. A vovó morreu com 102 anos. Não se lembra?

_ Ela não pode ter morrido, eu não sou um médico ainda._ diz com a voz embargada.

_ Eu sei papai, eu sei._ a filha o abraça.

O homem chora compulsivamente.

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