''Quando acertamos ninguém se lembra, quando erramos ninguém se esquece''

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

DA AJUDA NO RIO DE JANEIRO, mesmo que para isso eu precise só carregar os colchões

Na foto, eu carrego alguns colchões dentro de um ginásio de esportes, na intenção de não ficar parado. Parece coisa de idiota, um maluco que sai do nada e vai para o foco da tragédia do Brasil neste momento, para carregar colchões; mas, no fundo pode ser considerado um tipo de ajuda.
Eu cheguei, e sem saber direito o que fazer, fui logo carregando coisas. E de tanto carregar, gostaram daquilo que fiz, e fiquei carregando por um bom tempo. Fico em bons hóteis, afinal, tenho dinheiro e posso pagar o que eu quiser, mas isso não vem ao caso, o fato é que estou querendo ajudar um pouco aquelas pessoas que não tem dinheiro, e muito menos bons hotéis para dormirem. Ontem apareceu um político por aqui. Eu estava com Leandro, um outro voluntário que conheci no meio da lama, quando menos esperávamos um helicóptero desceu numa espécie de cais do porto, e de dentro dele, desceu um cara de terno e gravata. Junto com ele desceram mais uma leva de puxa sacos, todos andando na pontinha dos pés para não sujar qualquer coisa que fosse. Os malditos chegaram perto das crianças que choravam de fome, olharam para tudo, fizeram algumas anotações, viraram de costas e foram embora. No lugar onde eu estava, com mais umas trinta pessoas olhando para aquilo, pude contar e ver que tinha mais de dez câmeras de Tv. Era só filmar o que houve, mas ninguém, eu repito, por que vi, ninguém fez uma imagem que fosse de qualquer atitude assim.
O canalha entrou no seu helicóptero e foi embora. Talvez não tenho ficado por que não tenha visto nenhum dos eleitores jogados na lama e soterrados embaixo de pedaços de madeira e concreto. Canalha sem vergonha.
Hoje, depois de muito tempo o exército. A marinha já estava por aqui, o exército chegou e começou a fazer o trabalho pesado. E pior, fizeram tudo com muita eficiência. Os caras sabem fazer, tem equipamento para fazer, e sabem como conduzir os problemas rumo as soluções, mas o problema é toda a burocracia envolvida nisso. Não há como fazer sem ser falado que fez, por isso é preciso fazer uma espécie de barulho, e foi o que decidiram fazer. Isso, neste país, se chama política. Tudo vira ato político. Em qualquer outro canto do planeta isso se chamaria ajuda humanitária, aqui não, aqui se chama, política de apresentação. Eu faço algo hoje, pensando na minha eleição direta a qualquer cargo importante, amanhã.
Isso me dá muito nojo.
Agora estou postando esta mensagem no computador do quarto de hotel que aluguei. Amanhã volto para o local da tragédia. Não há como não dizer que meus olhos enchem de água quando lá estou. Enquanto tem gente brigando por equipamentos eletrônicos, como vi hoje, uma mulher quase arrancando a cabeça da outra por causa de um forno microondas, tem gente brigando para ficar viva. É de doer o coração de qualquer um ouvir o choro de uma criança que vem debaixo de um monte de madeira jogado e retorcido em cima de uma pedaço de chão. Hoje ficamos horas ouvindo isso. Os bombeiros tentaram de tudo. Tinha gente de todos os lados fazendo buraco, cavando na unha, cavando com ferramentas e tentando abrir espaço entre os destroços, mas no fim, não teve como, a criança parou de chorar, e ninguém ouviu mais nada.
Possivelmente esteja morta. Ou não.
Por hora, devemos esperar pelo amanhã.
Meu nome é Alex Palmilha, eu escrevo aqui por que tenho a senha do Vandré. Não sei onde ele está. Só sei que está de férias e que volta quando suas folgas acabarem. Ô bicho a toa. Ninguém também é obrigado a concordar com o que eu falo, que se dane aquele que não entende, e que reflita aquele que consegue juntar as letrinhas, que se danem...