Já estou em casa. Não quero mais ver gente morta na minha frente por bastante tempo. Fiz o que pude. Movi quantos tijolos eu consegui mover, mas num determinado momento cansei de tudo, e voltei pra casa. A realidade lá, sem sombra de dúvidas não chega nem perto daquilo que pensamos por aqui. É totalmente diferente você estar no foco da tragédia, e você estar longe, muito longe. Voltei por que a chuva parou e por que eu já estava me sentindo um inútil. Por mais que você faça nunca está bom. Sempre precisa de mais alguma coisa, ou mais algumas mãos para carregar um peso qualquer. E para isso, não tem gente suficiente no lugar. Talvez seja culpa de alguém que queira manter as coisas assim, talvez não tenha culpado algum, talvez seja responsabilidade de algum figurão com dinheiro no bolso, talvez seja culpa de um coitado que não tem nem dinheiro para comprar um sorvete, ou seja, talvez ninguém nunca saiba nada daquilo que aconteceu, ou talvez já saibamos e ninguém tem coragem de falar. Tudo bem.
O fato é que cheguei em casa. Vandré me ligou dizendo que prepara seu retorno para semana que vem. Disse que viu algumas coisas que escrevi e que não gostou muito daquilo que leu, mas fazer o quê? Quando recebi a senha com a missão de cuidar de tudo por aqui, eu tinha em mente que poderia escrever aquilo que acontecesse comigo, e foi o que fiz. Relatei dia a dia tudo que aconteceu comigo. Tudo que fiz, tudo que vivi, tudo que pensei. Se ele não gostou, tudo bem pra ele, isso não vai me fazer mais feliz nem menos triste. Ninguém é obrigado a aceitar nada daquilo que eu sou, ninguém nem é obrigado a ler isso que escrevo, eu só escrevo, por que quero escrever, e assim foi escrito... Até mais ver.