''Quando acertamos ninguém se lembra, quando erramos ninguém se esquece''

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

O CONE - capítulo 7

No jardim da casa, mexendo num canteiro abandonado até então, está Bruno, o dono do lugar. Não demora muito e um vizinho passa em frente a sua residência. Com um sorriso sarcástico nos lábios, olha para o homem e grita algumas palavras:

_ Ta fazendo carinho na terra, deve estar com algum problema.

Bruno se coloca em pé e olha para o engraçadinho. Não reconhecendo o homem que por ali passa, não pensa duas vezes e arremessa um monte de terra na direção do infeliz. Junto ao ‘’presente’’ algumas pedras pequenas são lançadas na direção do desconhecido.

_ Morre seu velho._ grita o estranho se despedindo enquanto corre para o horizonte.

Com a roupa toda suja, Bruno entra em sua casa e se dispõe a tomar um banho. Ao sair do banheiro caminha pela sala e ali encontra a caveira, colocada em cima do sofá, estrategicamente.

_ Então você está aí! Venha comigo, tenho que lhe mostrar uma coisa.

O homem segura o objeto e a leva para o quintal. Uma vez lá fora mostra para o pedaço de osso uma pomba agonizando na cerca de arame que ele mesmo construíra. Animado com a ideia de pegar ‘’novos ladrões’’ em sua invenção, diz para a caveira:

_ Está vendo, funciona. Quero ver alguém entrar aqui agora com a desculpa de que estava jogando bola. Isso não existe.

Surpreendido pelo toque do telefone, o homem entra em sua casa. Caminha até o aparelho telefônico e atende.

_ Pronto. Quem fala?

_ É o senhor Bruno?_ diz o interlocutor.

_ Sim. Quem fala?

_ O senhor pode nos..._ Bruno desliga o telefone.

Olhando para o aparelho comenta consigo mesmo:

_ Se não disser quem fala eu não converso com você._ voltando seus olhares para a caveira, comenta_ Entendeu, é assim que funciona no mundo aqui fora. Se não disser quem está falando, você não precisa perder tempo falando com tal criatura.

Vestindo sapatos novos, o homem sai pela porta da frente de sua casa. Caminha até a esquina e ali segue andando pela mesma passarela pública. Não demora muito e alcança um semáforo. Olha para os lados e vê dois cones balizando a rua. O homem pára, fica estático diante dos cones que ali estão. Tais objetos foram ali colocados na intenção de que os motoristas desviassem sua trajetória para o outro lado da pista. As mãos de Bruno começam a coçar. Ele olha para um lado e para outro, e não sabe o que fazer. Tenta enxergar alguém no seu horizonte, não vê ninguém. Está estático. Controla a respiração. O coração começa a bater mais forte. Suas mãos tremem. Lentamente vira o pescoço para cima. Parece procurar por algo. Muito devagar move uma das pernas. Não pensando muito nas conseqüências, o homem caminha até os cones e segura os dois objetos entre os braços. Encaixando-os embaixo dos braços, volta correndo para sua casa. Antes que atinja o portão de entrada de sua residência olha para o outro lado da rua e vê a vizinha debruçada na janela olhando para ele. Ele tenta evitar contato visual com a mulher. Ignora a existência da idosa, abre o portão de acesso a rua, e corre até a porta de entrada. Ao entrar em seu lar, comenta com o trinco da porta:

_ Sabe qual é o problema das mulheres? Eu não sei, quando você souber, você me conta, por favor. Isso é muito sério, e precisa ser resolvido.

Parado no meio da sala de recepção, olha para as janelas e vê as cortinas tapando a visão dos vizinhos, fica mais aliviado. Com os movimentos não mais acompanhados de uma incômoda tremedeira, coloca os cones em cima do sofá. Dali segue para seu quarto e deita embaixo das cobertas, na intenção de dormir um pouco. A partir de então, e depois de toda a adrenalina que correu em suas veias, esquece completamente o que pretendia fazer na rua, quando saiu de casa.