É difícil não chorar e segurar a emoção, é difícil.
Cada vez está ficando pior ficar por aqui. Hoje não choveu, o sol apareceu e todos puderam trabalhar em paz, sem maiores problemas. Mesmo sem chuva, as encostas continuam desabando e caindo sobre coisas e mais coisas que estão no chão, próximos a estas mesmas encostas.
Os bombeiros dizem que o número de mortos passou de 700 e que não duvidam nada que ele chegue a 1000, pelo amor de Deus.
Cada vez mais vejo pessoas chorando, e choram, choram, todos os dias, por terem perdido tudo, por não terem para onde ir, por não terem o que fazer depois que descobrem que estão vivas. Algumas queriam morrer na desgraça, outras não queriam nem ouvir falar, enfim, cada vez mais está difícil de suportar tudo isso.
Hoje de manhã, enquanto caminhava do hotel para o lugar onde estou ajudando, resolvi passar em um dos abrigos, mas não era um abrigo qualquer, é o abrigo onde estão ficando as crianças órfãs, que perderam pais, tios, tias, avós e avôs, ou seja, estão sozinhas. Olhando para aqueles pequenos seres de quatro, cinco, seis, nove, dez anos, pensei: e agora, meu Deus, o que será delas?
É triste e não tenho a resposta para tudo isso, não sei o que fazer, não tenho a mínima noção do que está acontecendo no mundo lá fora. Ligo a televisão e só vejo gente morrendo no Rio de Janeiro. Ligo o rádio e só escuto notícias sobre as mortes do Rio de Janeiro. Compro um jornal e só vejo fotos horríveis de mortos no Rio de Janeiro.
Até quando irão parar de tirar corpos debaixo deste monte de entulhos que estão cobrindo as ruas lá fora? Até quando? Mesmo com sol, ainda tem muita coisa caindo e muito entulho para tirar das ruas... Que coisa horrível.
As vezes penso, por que eu quis vir pra cá? Mas logo vem a resposta em minha mente; para fazer alguma coisa e não continuar sendo um completo inútil, como sempre fui na vida. Eu poderia estar em qualquer lugar do mundo neste momento, mas decidi vir ajudar este povo do meu país. Acho que falei o que eu queria falar, até mais ver...